quarta-feira, 11 de junho de 2014

Estudos do Meio

Além das saídas pela cidade, nossas primeiras viagens foram para as Cidades Históricas de Minas Gerais, quando levávamos a oitava série, atual 9º ano, sempre guiados pelo prof. Domingos de Toledo Piza, o precursor deste tipo de estudo nas escolas de São Paulo. Com o passar do tempo, estendemos a experiência a todas as outras séries.

Neste primeiro semestre, realizamos diversas saídas pedagógicas e viagens de estudos do meio com nossos alunos que envolveram o estudo de diversos temas como meio ambiente, arte, urbanização, patrimônio histórico e muitos outros temas.

Mas, afinal, para que servem estas saídas? Qual a importância de participar, muitas vezes exigindo um esforço extra por parte das famílias e da equipe pedagógica da escola? 

O Colégio Hugo Sarmento foi um dos pioneiros na realização das viagens de Estudo do Meio, que tiveram início na década de 70 e até hoje constituem importante meio de aprendizado para os alunos, da Educação Infantil até o Ensino Médio.



O grande atrativo das saídas e dos estudos do meio é a possibilidade de desenvolvermos habilidades, trabalharmos valores e obtermos informações por meio de um contato direto com pessoas, fenômenos, ambientes ou obras de arte. Os alunos têm uma oportunidade privilegiada de constatar, in loco, que a compreensão de qualquer aspecto da realidade requer uma visão multidisciplinar.

Desde a Educação Infantil procuramos planejar, juntamente com os professores e com o apoio dos pais, saídas temáticas com o objetivo de aprofundar um determinado conteúdo ou verificar aspectos da realidade, sempre com vistas a um aprendizado realmente significativo. O critério de escolha das visitas e estudos do meio está sempre relacionado aos temas dos projetos e conteúdos trabalhados e, desta forma, os alunos encontram os significados para o que aprendem em classe, observam e os relacionam com o que já estudaram anteriormente ou que venham a estudar.

A mudança de ambiente leva a uma alteração de ponto de vista. Diferentes assuntos são vistos dentro de um contexto mais amplo e complexo, exigindo, por parte dos estudantes, uma reflexão mais aprofundada e uma observação mais atenta. É um tipo de vivência que favorece um maior envolvimento com os temas estudados.

Por mais que a tecnologia virtual nos traga a possibilidade de recriar ao máximo a sensação de realidade sem que seja preciso que saiamos da frente do computador, é inegável que levar o aluno a vivenciar a observação do local, a realizar pessoalmente entrevistas, a colher depoimentos e a travar contato direto com o objeto de estudo é altamente motivador e muito mais enriquecedor. Além disso, as atividades de lazer que ocorrem neste tipo de viagem também acontecem em um contexto de aprendizagem, uma vez que as questões relacionais surgem e a interação com o grupo pressupõe um constante exercício de negociação entre os colegas.

Para a equipe que acompanha o grupo, as saídas e viagens são também oportunidades diferenciadas para observação dos alunos em situações diferentes do dia-a-dia na escola, seja nos aspectos ligados ao aprendizado e à participação nas atividades, seja quanto ao relacionamento entre os colegas e os outros envolvidos.
Espera-se dos alunos que, ao voltarem de um estudo do meio, tenham adquirido um olhar mais sistêmico, menos fragmentado, do mundo que os cerca.

As viagens de Estudo do Meio podem ser entendidas pelos pais como a observação e a vivência dos conceitos estudados em sala de aula. São pequenas experiências que contribuem muito para a construção de grandes conhecimentos. O contato direto com uma realidade e o diálogo com o mundo utilizando-se das habilidades desenvolvidas ao longo da vida escolar, como observar, discutir, ouvir, perguntar, registrar, desenhar entre outras tantas, conduzem para a formação de um olhar diferente sobre os objetos de estudo e sobre o mundo. 


Procuramos organizar encontros com os pais para apresentar o roteiro, possibilitando que vejam na atividade o real valor para os filhos. Também deixamos claro nossa preocupação em relação à segurança do espaço escolhido e do trajeto que será feito, além de que estabelecemos alguns combinados com os alunos que variam conforme a sua idade e as características das situações que serão vividas.
É gratificante observar a emoção dos pais ao acompanharem as primeiras saídas dos filhos, fotografando e observando emocionados o ônibus a se distanciar. 
É importante, ainda, passar para os filhos, sobretudo os menores, a vibração e a segurança de que aquela atividade é importante e segura. Envolve-los na preparação da viagem é, também, essencial, desde a preparação da mala até a educação financeira para os dias sem os pais. Durante a viagem é preciso deixá-los viver o momento e orientá-los a buscar e a confiar na equipe que os acompanha.

Além da motivação para o estudo, os alunos irão enfrentar diversas situações cotidianas, em que precisarão tomar decisões sozinhos. Algumas são tão simples como escolher a roupa, dobrar e guardar o pijama, tomar banho, o que comer ou o quanto gastar com lembrancinhas, mas que exigem o desenvolvimento da autonomia para escolher, algumas vezes errar, e encarar as consequências das escolhas, além de aprender a organizar e administrar seus pertences e o tempo para realizar todas estas tarefas.
Por parte das crianças e dos adolescentes, a ansiedade e a empolgação tomam conta, pois adoram participar de uma atividade tão envolvente como a de sair com o grupo da escola e seus professores.

Observamos o desenvolvimento de todas estas competências e habilidades envolvidas nestes estudos do meio, na medida, é claro, em que os alunos crescem e têm o hábito de participar sempre, ganhando autonomia e um olhar sobre a realidade cada vez mais atento, crítico, complexo e autônomo. 
Este contato com as ruas, com o campo, com museus e outras instituições, em variadas situações de pesquisa, ainda que mediado pela escola, se torna ainda mais importante, fundamental para crianças e jovens com acesso cada vez mais limitado aos espaços públicos e cada vez mais sem o hábito e a chance de exercitar situações de convívio e autonomia.