quarta-feira, 25 de maio de 2016

É lógico!

Por Leonardo Masaro


Professor: “O que é lógica?”
Aluno: “Lógica é uma coisa que... que faz sentido!”

Precisamente. Assim começou o curso de lógica para a 2ª série do Ensino Médio, na disciplina de filosofia. A lógica diz respeito à forma correta do pensamento, e a como tirar conclusões coerentes a partir de argumentos. No exemplo clássico:

Sócrates (a) é um homem (b) → a=b
Todo homem (b) é mortal (c) → b=c
Logo, Sócrates (a) é mortal (c) → a=c

A mortalidade de Sócrates decorre logicamente do fato de ele ser um homem. A esse esquema de pensamento Aristóteles deu o nome de silogismo. É interessante notar que a lógica trata apenas da forma do pensamento; seu conteúdo precisa ser de antemão correto. No vocabulário técnico, esses dois aspectos são chamados de validade e verdade de uma proposição lógica. Assim:

Os cachorros são inteligentes
Todo ser inteligente fala
Logo, os cachorros falam 

Esse silogismo é válido, isto é, está formalmente correto (a=b; b=c; a=c), e, contudo, sua conclusão é falsa, pois não é verdade que “todo ser inteligente fala”. Por outro lado, 

Todos os ziriguiduns são tchutchucas
Pedrinho é um ziriguidum
Logo, Pedrinho é um tchutchuca

Esse silogismo é formalmente correto, mas sua verdade é uma questão em aberto: o que são ziriguiduns e tchutchucas? Vemos, pois, que a lógica é uma ferramenta útil para se decidir sobre a validade de argumentos num debate – desde que haja acordo sobre sua verdade...

E quanto à sala de aula? Um exemplo de atividade interessante desenvolvida pelos alunos da 2ª série foi o jogo dos silogismos. Dividiu-se a classe em dois grupos. Cada um deles fez um desafio ao outro: partir de uma proposição e chegar, por meio do raciocínio lógico silogístico, a uma conclusão. A graça está no disparate. Por exemplo:

Premissa: João é um homem
Conclusão: Planeta Marte

João é um homem.
Todo homem é um mamífero
Logo, João é um mamífero

Mamíferos têm pulmões
Pulmões servem para respirar
Logo, João [que é um mamífero,] respira

Os animais que respiram, respiram oxigênio
Marte não possui oxigênio
Logo, João, [que é um mamífero, que respira], não respirará em Marte.
Imaginem a dificuldade que um dos times enfrentou para resolver este desafio:

Premissa: Os ratos gostam de queijo
Conclusão: basing-jump (um tipo de esporte radical)

Outra atividade, em desenvolvimento, é o uso da lógica como ferramenta de análise de textos argumentativos e de opinião. Nessa atividade, atualmente em curso, os alunos recebem artigos de opinião recentes, publicados em jornais, e devem fazer uma análise lógica dos mesmos: identificar as premissas, a cadeia argumentativa, e as conclusões a que chegou o autor ou autora. A partir disso, é discutida a validade de tais conclusões e, num debate mais aberto, a verdade de todo o argumento.
Estão sendo trabalhados textos de colunistas da Folha de São Paulo, como Luiz Felipe Pondé, Guilherme Boulos, Demétrio Magnoli e Vladimir Safatle, tratando de assuntos como a situação política atual, feminismo, uma teoria dos estágios da felicidade, o clima de intolerância em que vivemos, a questão de saber se o Brasil é um país muito religioso, o que é o populismo, etc. Neste processo, é curioso descobrir a diferença entre, ao invés de apenas discordar dos argumentos de um autor por algum motivo íntimo não questionado, reconhecer que, dado um ponto de partida, uma argumentação faz todo o sentido lógico, mesmo que não se concorde com ela.

Afinal, nem sempre o que é claro é lógico, nem o que é lógico, claro!