quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A morte, um assunto que ninguém gosta de tratar

Por Theodora M. Mendes de Almeida

Na semana passada, tivemos que lidar novamente com o tema da morte com os alunos. Mas, desta vez foi ainda mais difícil para todos nós por se tratar da morte de um ex-aluno querido, ainda uma criança. Todos ficamos chocados e muito tristes com o falecimento do Juahn. Ele era um menino especial e muito querido por todos. Esteve conosco desde os três anos até o ano passado. Neste período, passou por muitas situações difíceis, tratamentos que precisavam de muita força para superar. E ele era forte, esperto, inteligente e alegre. Temos certeza de que foi muito feliz aqui conosco.

Juahn , no centro da foto, fazendo o sinal de paz e amor!

Discutir a morte não é tarefa fácil, nem para as famílias nem para as escolas. Todos os especialistas dizem que o assunto deve ser tratado de forma aberta. Dizem ainda que desde os 2 anos, a criança é capaz de entender a perda: um animal de estimação que foge, a ausência dos pais e a morte em desenhos animados. Porém, até os 4 anos ela tem a ideia de que isso é reversível. 

Psicólogos especializados estão aptos a contribuir. O principal é analisar cada situação, propor ações e avaliar a necessidade de recorrer a especialistas.

Os alunos do 4º. Ano, colegas de Juahn, já com 9 anos, foram informados por seus pais sobre o falecimento e nós nos preparamos para ouvi-los e acolhê-los. As crianças choraram bastante e falaram sobre suas lembranças com o amigo e sobre seus sentimentos.

É necessário muito cuidado e sensibilidade para agir diante do fim da vida de alguém. A morte é uma experiência que mobiliza muitos sentimentos e emoções difíceis de serem vivenciadas - como a culpa, a indignação e a raiva. Porém certas ações favorecem a sua elaboração. Cerimônias simbólicas também constituem iniciativas interessantes – após a conversa em grupo, optamos por sugerir às crianças que fizessem mensagens escritas para registrar o que estavam sentindo.  Combinamos que cada um faria uma cartinha ou um desenho como forma de registrar suas memórias e nos oferecemos para entregar aos pais do Juahn, o que fizemos depois na missa de sétimo dia.

A partir de agora, sabemos que o importante não é tanto falar e sim escutar e observar. Os professores estão atentos às expressões das crianças, seus comportamentos e suas perguntas e até ao seu silêncio. 

Muitas famílias têm dúvidas em como abordar o tema com os filhos. Algumas falam bastante, recorrem à literatura, outras silenciam, apoiam-se em preceitos religiosos ou fazem uso de metáforas - "Virou uma estrela no céu", "Foi fazer uma grande viagem". Não cabe à escola atribuir um sentido para a morte, é importante que os pais conversem com as crianças sobre a situação de morte e perda e que transmitam a elas suas próprias crenças e valores. Acolher e dar carinho são mesmo os melhores remédios nessa hora. 

Mariáh, que entrou na escola este ano e viu o sentimento dos seus colegas, também registrou seu pensamento.


Como acontece com os adultos, a memória afetiva nunca vai desaparecer. Depois de certo tempo, acontece o chamado luto saudável, quando se percebe que é possível se lembrar da pessoa querida de forma leve e sem sofrimento. 

Juahn ficará sempre nas nossas melhores lembranças.