Em uma cidade que convive praticamente
todos os verões com o drama das enchentes, enfrentar uma crise de abastecimento
pode parecer algo incomum. No entanto, há pelo menos dez anos já se sabe que
são necessários investimentos no setor que permitam a construção de novos
reservatórios e melhorem o sistema de distribuição de água tratada em São Paulo.
Bastou, então, um verão atípico para que chegássemos a uma situação crítica.
Diante de um quadro tão grave, discutir o problema
em sala de aula torna-se ainda mais importante. Em nosso colégio o assunto água
é trabalhado em vários momentos: nos projetos da Educação Infantil, como o das
árvores ou o dos animais dos Polos, por exemplo, mas ganha um especial destaque
no 3º ano, quando é tema de projeto, e depois é retomado no 6º ano, como parte
do estudo do planeta Terra.
Neste ano, os alunos do Grupo 4 fizeram um registro
que gerou muitas reflexões. Anotaram, desde o mês de fevereiro, os dias de
chuva. Isto porque estavam cuidando das plantas e verificando os dias em que
era preciso regar.
Desde que foi
criado, o projeto Água do Ensino Fundamental 1 inicia-se com a seguinte
pergunta: “De onde vem a água que usamos no dia a dia?”. É justamente a partir de uma questão sobre o
abastecimento da população com água potável que os alunos começam a aprender
sobre esse recurso natural e a pensar sobre as ações necessárias para evitar
que ele se torne cada vez mais escasso.
Ao observar a
evolução do abastecimento de água e da captação de esgoto ao longo da história,
os alunos percebem o quanto já melhoramos em termos de saneamento básico.
Porém, quando confrontam essas informações com as notícias a respeito da falta
d’água em nossa cidade ou mesmo em outras regiões do Brasil e do mundo, veem
que ainda temos muito a fazer até que todos possam dispor de água tratada.
O
resultado desse estudo é transformado em uma campanha em que os alunos visitam
outras classes e conversam com os colegas a respeito do assunto. Com essa ação,
tornam-se, além de participantes desse esforço coletivo de economia de água,
divulgadores de suas medidas e multiplicadores de atitudes cidadãs.
Vivemos em um
país cujos recursos hídricos são abundantes, mas, para os habitantes de São
Paulo, o abastecimento da cidade com água potável foi, desde o princípio, uma
corrida contra o aumento populacional. Para que possam compreender melhor o
desafio que é fornecer água potável para nossa cidade, anualmente levamos os
alunos a uma das estações de tratamento de água da Sabesp. Desta vez a equipe
de educadores do colégio tem uma missão a mais: deve informar nossos estudantes
sem, contudo, alarmá-los.
A preocupação
por eles demonstrada é grande e não tem sido uma tarefa fácil admitir que a
reserva do sistema Cantareira possa acabar já em outubro. As discussões sobre a
falta d’água continuam e, felizmente, é possível observar que o número de
alunos que têm adotado medidas de economia de água vem crescendo.
Outro fato
animador é o interesse de vários de nossos alunos pelas próximas eleições. Apesar
da pouca idade, alguns falam como se já fossem eleitores. Os meteorologistas
preveem mais um verão com poucas chuvas e a solução para o problema do
abastecimento de água em São Paulo inclui fazer, nas urnas, a melhor escolha
possível. Por isso, analisar as propostas dos candidatos ao governo estadual e
discuti-las no espaço escolar também faz parte desse trabalho de educação
ambiental.
Estas questões
tornam-se ainda mais relevantes para os alunos do Ensino Médio, uma vez que
parte deles já tem direito ao voto e o posicionamento político partidário surge
durante os debates. As discussões sobre o tema em sala de aula ganham uma
abordagem mais ampla e aprofundada, levando-se em conta os aspectos políticos,
econômicos e sociais não só de nossa cidade, mas do Brasil, e os conflitos pelo
mundo que envolvem a disputa pela água potável.
Aspectos duros
da realidade, como informações de que cerca de um sexto da população mundial
não tem acesso à água potável, que 40% dessa população não têm instalações
sanitárias em casa,
que aproximadamente 80% das doenças que ocorrem no mundo estão relacionadas ao
consumo de água em más condições sanitárias e que, em cidades como São Paulo,
cerca de 50% da água potável se perdem por vazamentos, infiltrações, ligações
ilícitas e por desperdícios, despertam a consciência para os complexos
problemas que envolvem a urbanização nos grandes centros ao redor do mundo.
Pensar, conhecer,
refletir e agir... são quatro verbos fundamentais que permeiam as
atividades pedagógicas na escola e que estão a serviço da construção da
participação cidadã.