quarta-feira, 3 de abril de 2019

Quatro bibliotecas, quatro histórias, quatro tesouros...

Biblioteca de São Paulo, Biblioteca Alceu Amoroso Lima, Biblioteca Mário de Andrade e Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

Por Gaby Vignati, Eloisa Liebentritt, Gabriela Duarte e André Judice


Neste trimestre a equipe pedagógica do colégio fez um convite especial aos alunos para conhecer diferentes bibliotecas públicas espalhadas pela cidade de São Paulo.

Conhecer a história da biblioteca, a arquitetura, o acervo, o modo como os livros estão dispostos, o seu público, revela a identidade do lugar e nos transporta para novas possibilidades. Concomitantemente, o propósito de tornar a relação dos alunos com a literatura cada vez mais prazerosa fez parte da intenção do convite da visita à biblioteca. 

As turmas do 4º e 5º anos fizeram, no último dia 27, uma visita à Biblioteca de São Paulo, situada em uma área revitalizada da cidade, o Parque da Juventude. Neste lugar, onde antes havia um presídio marcado por um massacre, surgiu uma biblioteca modelo. Parece até ironia, não é mesmo?

Um prédio moderno com paredes de vidro, decorado com pufes coloridos, muitas atividades, não é um espaço somente de leitura e estudo, mas também de convivência, uma praça cultural.


“A biblioteca era muito diferente das outras, ela tinha computadores, videogames, espaço para jogar bola, mesa de ping-pong...” Diego, 4º ano


“O prédio é muito bonito! Todo de vidro...” Pedro A., 5º ano

A visita foi cheia de surpresas, descobertas e encantamento. Já nos primeiros instantes os alunos se surpreenderam com a história do local e depois... Perceberam que aquela biblioteca era diferente, que não precisavam fazer silêncio e outra novidade foi saberem que em um dos espaços podiam jogar em computadores, brincar e participar de diferentes atividades.

Muitos se encantaram com o espaço de acessibilidade, com a máquina de virar páginas de livros, o computador que aumenta letras, que muda as cores para os daltônicos, os livros em braille, os audiolivros. Conhecer os diferentes recursos tecnológicos para atender às pessoas com necessidades especiais foi de grande aprendizado.


“No andar de cima tem máquinas para pessoas com dificuldade em ler e se mexer!” Sofia M., 4º ano

“O que eu mais gostei foi o audiobook porque desse jeito quem não sabe ler pode ouvir a história toda!” João Gabriel, 4º ano


O momento que os alunos mais apreciaram foi o de explorar todos aqueles tesouros chamados LIVROS nos cantos de leitura por faixa etária, deitar nos pufes estrategicamente colocados entre as estantes, manusear os diferentes livros, conhecer novos títulos e a coleção escrita em árabe.

“...Ficamos livres para ler, eu vi um livro de imagens de animais em corpo humano...” Mariah, 4º ano

“...Tem bastante acervo… livros para adultos e crianças...” Beatriz, 5º ano

“É bem legal o lugar, bem grande e bem divertido.” Lara, 4º ano


Foi uma experiência encantadora e todos ficaram com desejo de fazer uma carteirinha de sócio e ser integrante desse universo. Os interessados podem fazer o cadastro na Biblioteca Villa Lobos, que também vale para retirar livros na Biblioteca de São Paulo.
Professora Eloisa Liebentritt - 4º ano

No mundo atual, onde tudo transcorre na era digital, cabe falar da grande importância e do tesouro humano que se tem na Biblioteca. A sua função vai além de ser um “espaço físico em que se guardam livros”, pois nela estão registrados e preservados os conhecimentos da humanidade, como forma de perpetuação de seus pensamentos e descobertas. Ao entrar em uma biblioteca, adentramos em muitos pensamentos e registros. A biblioteca é um espaço sempre atual, em movimento, visto que tornamos vivas ideias e ideais a cada livro aberto, a cada história lida. Por mais antigo que seja um livro, ao abri-lo damos vida às palavras ali contidas, alimentando o imaginário humano.

Com esse propósito, damos grande importância ao incentivo à leitura, ao livro, à biblioteca, buscando aflorar em nossos alunos o gosto pela literatura, onde os pensamentos podem flutuar por diferentes dimensões e sonhos, como também adquirir e descobrir cada vez mais conhecimentos, pois a biblioteca possibilita percorrer tanto o mundo imaginário como o real.

Pensando na importância que damos à biblioteca, no dia sete de março foi a vez de os alunos do 1°, 2° e 3° anos do Fundamental visitarem a biblioteca pública Alceu Amoroso Lima, que fica próxima ao colégio. Ela foi inaugurada em 1979, por meio de uma solicitação dos moradores do bairro de Pinheiros que queriam ter acesso à boa leitura e informação. 

Hoje ela é reconhecida como uma importante biblioteca temática de poesia, pois tem um andar exclusivo que conta com mais de 31 mil volumes de livros de poesia.

A visita à biblioteca foi apreciada por todos os alunos, despertando de imediato o encantamento pelo espaço e pelo acervo ali colecionado. O fato de não ser apenas uma biblioteca, mas também um espaço de atividades teatrais e muitas outras apresentações, também foi motivo de grande interesse. Os alunos puderam presenciar um ensaio de teatro para idosos. Lá também puderam observar pessoas estudando e até mesmo lendo jornal, como forma de preencher a sua “rotina”, como falaram.

Houve dois momentos muito marcantes na visita: a agitação natural de verem um lugar tão colorido e cheio de tudo o que mais gostam, os livros,  ficando sem saber direito por onde começar, o “explorar” transbordava em seus gestos, até o momento da “calmaria”, onde mergulhavam nas histórias e ilustrações dos livros escolhidos. 


Outro momento especial foi quando descobriram os livros para deficientes visuais. Muitos alunos fecharam os olhos para sentir o que estavam lendo. “Isso é Braille e é assim que se lê”, disse o aluno Henrique fechando os olhos  e passando os dedos pelas folhas, mostrando para os amigos.

Familiarizaram-se com os livros de que gostam e que têm em casa, além de se deliciarem com o acervo de gibis e de poesias! Foram, realmente, momentos de muito encantamento.


Em sala, montamos um relato coletivo como fechamento da visita.


Vale a pena conferir!
Professora Gaby Vignati - 2º ano


Que tal conhecer outras bibliotecas da cidade???

Quem não se encanta com o “mundo” dos livros? Você é capaz de “voar” em livros balões? Assista à animação “Livros voadores de Modesto Máximo” e responda a si mesma(o)!!! 


Conversando com os alunos, fizemos uma proposta para que gravassem seus vídeos sobre suas experiências literárias. Eis que nossos leitores/autores jovens de sexto a nono ano trouxeram suas vivências, autores prediletos e dicas, inclusive sobre outras bibliotecas que eu mesma desconhecia! 

Sim, eles são extraordinários! E sim, conseguem perceber o valioso espaço de uma biblioteca!


Em nossas aulas, que antecederam nossa ida às Bibliotecas “São Paulo” e “Mário de Andrade”, levantamos questões sobre este espaço pouco conhecido para grande parte da sociedade, inclusive raro em muitas escolas, mas que nossos alunos valorizam há tempos. Dentro e fora da escola, suas vivências elucidam a biblioteca com familiares e amigos. Há inclusive aqueles que trazem suas opiniões bem formadas: “Bem, Gabi, nem todas as narrativas de que gosto estão nas bibliotecas, mas eu tenho o costume de ir às livrarias com minha família, então, busco meus autores prediletos nelas”. Assim define o aluno Rafael, do sexto ano. Veja o depoimento dele na íntegra:


Sobre escrever no blog, bem… lendo há alguns dias a crônica de Moacyr Scliar “Histórias de mãe e filho”, o autor traz o seguinte relato:

                                                                            
Berel também era um rebelde. Seu sonho era formar-se em medicina; desde criança ele se interessava por doenças, ajudava a cuidar dos enfermos da aldeia. Chamavam-no “o doutorzinho”. Brincadeira? Não para Berel. Quero ser médico, dizia, custe o que custar. Assim, apesar dos pedidos dos familiares, saíra da aldeia, enfrentando a proibição, e fora para a casa de uns conhecidos em Odessa (cidade da atual Ucrânia).
Mas não entrou na faculdade de medicina. Na verdade, nem chegou a prestar exame; o encarregado das matrículas não teve a menor dificuldade em descobrir que ele era judeu e até o ameaçou:
- Volte para a sua aldeia, judeuzinho, ou eu o denuncio para a polícia.
Berel não voltou para a aldeia. Tinha esperança de, no fundo, conseguir entrar na faculdade (o que nunca aconteceu). Ficou em Odessa.
Lá ficou amigo de um rapaz chamado Isaac Babel, que lhe arrumou um emprego de vigia.
Babel, que depois viria a ser um escritor conhecido, introduziu Barel no mundo dos livros. Um mundo do qual ele nunca mais sairia. Tornou-se um leitor apaixonado. Nos livros, ele dizia, realizo meus sonhos. (...)
(SCLIAR, Moacyr. Histórias de mãe e filho. In:_ Contos e Crônicas para ler na escola. Rio de Janeiro: Objetiva, 2011.).

Essa narrativa, da qual recomendo a leitura na íntegra, e que cativou os alunos na última semana, nos permite pensar sobre esse mundo da leitura tão caro a muitas pessoas e que outras acham inacessível. 

Perguntei aos nossos estudantes se seriam capazes de “voar” em seus livros e saltar para outros mundos em sua imaginação através das literaturas. Em muitos vídeos, alguns disponíveis na Livromania, que ocorrerá em 6 de abril, eles respondem que sim. E há os que desfrutam dessas “viagens” há muito tempo. Será que nós nos permitimos, também, estas aventuras?

Tente!
Professora Gabriela Duarte - Português, Fundamental 2

Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin

A ida à Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin começou logo pela manhã no ponto de ônibus da rua Nazaré Paulista com destino à Cidade Universitária da USP. Embarcamos todos, alunos, professores e coordenação do Ensino Médio no 809U-10 com Bilhete Único ou dinheiro trocado da passagem em mãos para facilitar o trabalho do cobrador, afinal, éramos quase 50 pessoas no transporte coletivo e, além de nós, havia outros passageiros, entre eles muitos estudantes universitários, facilmente identificáveis, pois seguiam com os rostos mergulhados em suas leituras, mesmo com certa agitação provocada pelo nosso embarque.


Começou, assim, a ida ao nosso destino. Mas havia um propósito para isso, pois, antes de embarcamos, um dia antes, cada aluno e aluna escolheu um livro que compunha o antigo acervo da biblioteca do Colégio, para que pudessem deixar pelo caminho a outros leitores, a outros curiosos, a outros estudantes, sobre os assentos do ônibus, no ponto de ônibus, ou entregues em mãos, deixando assim um rastro de conhecimento e de manifestação delicada no gesto de carinho que é doar um livro a quem não se conhece.


Descemos em frente à Biblioteca e nos deparamos com um moderno  edifício, inspirado em conceituadas bibliotecas do mundo, como a Biblioteca Beinecke de Manuscritos e Livros Raros, da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e a Biblioteca Sainte-Geneviève, de Paris, na França.  É uma atração à parte esse espaço. Ali os alunos conheceram um pouco da história da Brasiliana da USP, ouviram sobre o seu riquíssimo acervo de obras e estudos sobre o Brasil, visitaram uma exposição, foram à livraria e curtiram a cafeteria do mezanino. Tudo em um único espaço de cultura público, aberto à sociedade.



Em uma única manhã de estudos, os alunos e alunas vivenciaram muitas experiências e performaram ao doarem os livros. Mas, o que ficou marcado foi perceber que muitos deles deixavam transparecer o desejo de estarem ali em breve, de se tornarem universitários. Em breve estarão!   


Professor André Judice - Português, Ensino Médio