quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Yoga x Corpo em Movimento x Dinâmica Corporal Integrativa

Por Claudia Cosceli
Iniciei as aulas de Yoga com os alunos do Ensino Médio neste ano, como uma forma de oferecer atividade física diferenciada das tradicionais aulas de educação física. Pensei numa parceria que integrasse e auxiliasse os alunos a enfrentarem os desafios da jornada acadêmica, considerando as transformações do corpo e das emoções.

Nas aulas, procurei integrar corpo, mente e emoções. Apresentei o poder de técnicas milenares de posturas corporais que auxiliam no conforto muscular e na boa postura, respirações conscientes que amenizam estado de alteração emocional e controle do mesmo, movimento e observação dos pensamentos que gerenciam a mente, meditações guiadas para controle dos pensamentos, projeções mentais e relaxamentos que irão ajudar no seu dia a dia.

Os espaços externos da escola foram utilizados como forma de ampliar as possibilidades de respiração, movimentação e ampliação dos sentidos.



Para que esse entendimento fosse completo, os alunos vivenciaram e exercitaram essas experiências, respeitando suas próprias habilidades corporais e também auxiliando os colegas, tanto no contato dos movimentos em duplas e em grupo, como no toque respeitoso para a execução das massagens e relaxamento.

Ensinei a importância do autoconhecimento, da necessidade de observarem a motivação do corpo, identificando estados de sonolência, cansaço, vitalidade, ansiedade ou agitação mental. Ao identificarem estas manifestações do corpo, poderão usar as ferramentas aprendidas nas aulas e fora delas, mantendo o equilíbrio vital, necessário para uma vida equilibrada e saudável.

Por isso, segue meu convite a todos: Vamos Praticar?


quinta-feira, 11 de outubro de 2018

BIBLIOTECA CIRCULANTE: PARA CONHECER E AMAR AUTORES ESPECIAIS

Por Paula Loyola, Vivian Gouvea e Carla Cherubini


Nas salas de Educação Infantil e 1º ano, as rodas de biblioteca acontecem semanalmente. A proposta tem como objetivo desenvolver a ampliação do repertório literário e de vocabulário das crianças, além de proporcionar muito prazer com as histórias lidas em casa e depois compartilhadas com o grupo de amigos. 

Para os Grupos 3 e 5, neste último trimestre foram selecionadas obras do autor e ilustrador Stephen Michael King, pelo encantamento que provocam em seus leitores, com seu traço e escrita peculiares, e por tratar de temas delicados, atuais e comuns com tanta sutileza, sempre deixando uma mensagem bonita.


Apresentamos um pouco da biografia do autor, contando sobre como a perda de audição, que sofreu aos 9 anos de idade, o levou a ver nos livros um meio de expressar o seu amor pela filosofia e pela vida. Saber detalhes sobre a vida do autor aproxima os leitores de suas obras.

Para escolher um livro selecionado para a Biblioteca Circulante, observamos que a ilustração contida na capa é sempre a primeira leitura, a de imagens, e que influencia a escolha das crianças. A curiosidade em explorar o conteúdo do exemplar é imensa, e procuramos orientá-los a compartilhar a experiência em casa com a sua família, pela importância dessa relação no processo. A família é o principal exemplo para as crianças, portanto, se praticam e incentivam a leitura, a criança valorizará a prática para si. Além disso, o aconchego familiar, nesse momento, cria um elo afetivo singular com a leitura e com a literatura.  

Várias estratégias de abordagem foram planejadas para quando as crianças retornassem de casa com a obra escolhida. Procuramos elaborar perguntas que as levassem a refletir a respeito da narrativa e que pudessem ser relembradas recorrendo às imagens e que as auxiliasse a relacioná-las com alguns personagens ou elementos que o autor sempre trazia nas obras, identificando, assim, as características de seu trabalho. Enquanto uma das crianças constrói e apresenta o seu relato, as outras ficam atentas, assimilando e interpretando as ideias do colega e, às vezes, contribuem com comentários que demonstram o quanto se identificam, tanto com os momentos de leitura em casa quanto com algumas percepções sobre a atuação ou intenção dos personagens.

Essas rodas possibilitaram às crianças compartilhar experiências leitoras, confrontar interpretações, além de ampliar o repertório de histórias conhecidas pelo grupo. Na hora de falar sobre o que acharam das narrativas, vamos conversando: “De qual personagem mais gostou?”; “Qual parte da história foi mais significativa?”; “Por que você escolheu essa história?”. Essas questões ajudaram as crianças a refletir sobre o que ouviram, adotando uma postura mais reflexiva em relação aos temas dos livros, além de poderem indicar a história preferida aos seus colegas.

No 1º ano, a autora escolhida foi Eva Furnari, que traz uma linguagem única, lúdica, recheada de senso de humor, que logo conquistou toda a turma. 

Dividida entre dois mundos, um do dia a dia e o outro mundo do imaginário, ela inventa personagens  carismáticos, engraçados e ligeiramente melancólicos. Figuras como o coelho poeta Felpo Filva, o inventor acidental Lolo Barnabé e a bruxinha Zuzu, o tempo inteiro surpresa com os estranhos poderes da sua varinha mágica, são alguns dos personagens que encantaram as crianças, provocando risos, e despertando ainda mais a imaginação e a fantasia, tão inerentes ao universo infantil.

Iniciamos essa proposta com uma roda de conversa apresentando sua biografia, por meio de um interessante vídeo para que as crianças conhecessem o percurso e as características peculiares de sua escrita e de seus personagens. Destacamos um estilo que se tornou marcante na obra da autora: desenho e texto que se conversam e se complementam, recheados de humor inteligente e único.  Eva Furnari conseguiu, através de suas obras, unir o humor genuíno ao humor estético.

Nosso primeiro contato com suas obras foi o livro “Trucks” , que chamou a atenção do grupo que logo se encantou com a  Bruxinha, personagem principal do livro; através de suas trapalhadas, provocou risos, despertando o interesse e o olhar, fosse para as tirinhas, sem texto mas com narrativa,  bem como para os personagens da história.


O objetivo dessa proposta foi criar condições para que as crianças desenvolvessem um olhar atento, observassem detalhes da história e ampliassem o repertório cultural, dessa vez conhecendo de perto as características de uma renomada autora da literatura infanto-juvenil. Durante nossas rodas de conversa, evidenciamos a importância de nos atentarmos a todos os detalhes, desde a relação do título com o enredo da história, bem como as ilustrações, estilo, cores e traços da autora, para que as crianças  desenvolvessem um olhar mais amplo sobre a obra, estabelecendo, assim, suas relações, nesse momento rico de aprendizagem.


As questões como: Quais as características da autora que você identificou nesse livro? Durante a leitura, essa história despertou algum sentimento em você? O título do livro lhe diz alguma coisa sobre a história? E a ilustração?, foram previamente elaboradas com intencionalidade. Assim, cada aluno teve seu momento para pensar, refletir sobre a questão abordada e compartilhar na roda suas experiências.

Logo perceberam as conexões, identificando as características da autora nos livros, fosse pelo inusitado, fosse pelos trocadilhos, rimas, adivinhas e jogo de palavras. Nossas rodas foram divertidas e repletas de aprendizado, e esperamos que continuem com esse valioso hábito de ler, que a leitura seja sempre prazerosa e se torne presente na vida de todos os alunos.

A roda de leitura é uma ferramenta muito importante no processo de aprendizagem e no campo social, por favorecer o contato com a cultura e com a prática da leitura, que amplia a compreensão de valores da sociedade para, assim, se constituir como sujeito, tendo a literatura como parte para a experimentação do mundo.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Ainda precisamos falar sobre Política

Por João Francisco Branco
Professor de História e Sociologia


Dois anos atrás, o Blog do Hugo publicou um texto corajoso e irretocável (http://hugo-sarmento.blogspot.com/2016/06/precisamos-falar-sobre-politica.html?m=1), que tratou com maturidade sobre o desafio de falar sobre política e como abordar seus desdobramentos dentro do cotidiano escolar. Com o país já submerso em um período político delicado, a escola não se absteve de encarar o conteúdo repleto de nitroglicerina que é próprio desses momentos de radicalização política, polarizações, divisão ideológica, interdição do diálogo e de esvaziamento completo da palavra. 

E o que mudou de dois anos para cá? Bem, pode-se dizer que não houve ruptura com o ambiente de turbulências e de intolerância política. A bem da verdade, este sentimento de divisão do país é também o fruto maduro da nossa história de séculos: a história do Brasil face a face com a profunda desigualdade social e seu passado colonial que transita com fluidez em nosso presente. Dessa fratura exposta deriva o clima de polarizações, enquanto não solucionarmos definitivamente um problema que diz respeito à negação do acesso de milhões de brasileiros à cidadania, acesso este garantido pela Constituição de 1988 e que completa 30 anos agora.

Somem-se a isso doses cavalares de aversão à política, e pronto... Temos um caldo propício para realizarmos um trabalho significativo dentro da escola! Mas, é sério mesmo isso o que estamos afirmando? Sim! Nos momentos de sombras e banalização das agressões por motivações políticas, o papel de educadoras e educadores ganha contornos ainda mais nítidos: desenvolver o pensamento autônomo e a empatia, preparando os jovens para refletir, questionar, escutar o próximo e se colocar em seu ponto de vista para refinar seu pensamento e suas convicções, como já escrito dois anos atrás neste blog. 

Em outras palavras: encontrar na escola um espaço de exercício da liberdade, para manifestar seus posicionamentos e, principalmente, mais do que tudo, de exercício da escuta. Um espaço de diálogo, enfim. É dentro de um ambiente onde as diferenças podem ser expostas e discutidas que se pode criar uma cultura de aceitação. Escutar e ser escutada(o) é, no limite, um movimento de se reaproximar da política; de remar no sentido inverso do monólogo que muitas vezes se impõe e que nada mais é do que um estado de desumanização, esse que resulta do desprezo à diversidade e da barbárie do desrespeito. Neste sentido, desenvolver nossa individualidade plena e livre passa pela questão de lidar com os terrenos do dissenso e orientar-se para um sentido comum, que é a busca do entendimento entre todas e todos e da igualdade na diferença. Porque é disso que se trata: somos diferentes, não desiguais.

Aproximar as e os estudantes das discussões e da quantidade de temas que se apresentam durante o período eleitoral é também nossa tarefa para e superar o obstáculo mais difícil neste percurso: a repulsa generalizada à política e suas esferas de atuação. E afastar da política significa silenciar o próprio corpo, e nosso trabalho é também ressaltar o fato de que nossa vida cotidiana é feita por política, nossos ritmos, nosso tempo, hábitos, deveres e obrigações são orientados por decisões políticas em algum âmbito, e que abrir mão de se interessar por essas questões promove uma renúncia ao desenvolvimento da autonomia, das individualidades, do bem comum. O processo de aprendizagem na escola também passa pelo amadurecimento de jovens que tenham noção de sua responsabilidade consigo mesmo e com os outros.

É dessa forma que os trabalhos pedagógicos relacionados às Eleições 2018, no Hugo, se orientaram dentro deste significado profundo que é reverter um processo de sabotagem que se inicia no próprio pensamento – caracterizado pelo desinteresse automático em não lidar com questões ligadas à própria vida, à política, enfim. Propusemos às e aos estudantes que levantassem temas pertinentes no Brasil de hoje e como estão sendo debatidos em diversas esferas ligadas à política, assim como pesquisar como tais temas aparecem nas propostas dos programas de cada candidato – coligação para a Presidência da República – e em mobilizações de segmentos da sociedade (movimentos sociais, organizações não governamentais, órgãos multilaterais, matérias jornalísticas, etc.) Foi nesse contexto que temas como o Estatuto do Desarmamento, ampliação da legalização do aborto, igualdade de gênero, LGBTQ+, reforma política, privatização, pena de morte, racismo e desigualdade social, entre outros, foram escolhidos pelo próprio grupo de estudantes do Ensino Médio para serem abordados em fóruns de discussões coletivas.

Essa vasta gama de material foi objeto de pesquisa dos grupos e está sendo apresentada e debatida ao longo deste mês, completando um processo que desde seu início teve como primazia o estímulo ao protagonismo de cada estudante como sujeito político, a partir do pensamento crítico, da escuta e da atuação. Neste exercício de prática e pesquisa constantes, pudemos ver e descobrir como são diversas as propostas, o que cada candidato pensa, como se constroem programas de governo e como a sociedade organizada se posiciona frente a questões tão delicadas. Ao se colocarem diante de tais desafios, as e os estudantes têm, por um lado, a percepção da importância de sua atuação dentro da sociedade; e, por outro, se deparam com as diferentes posições políticas presentes na mesma sociedade.  

As discussões também colocaram todas e todos para lidar com os problemas concretos do país, se desafiarem e construírem argumentos, lidarem com perguntas embaraçosas, escutar e dialogar com visões opostas. Encarar cada situação como um problema nosso – pois a sociedade diz respeito a todas e todos - e dividir responsabilidades, ao invés de negá-las.  Neste sentido, o trabalho desenvolvido pelos estudantes junto com a professora Adriana é de encher os olhos, ao reproduzirem as práticas nascentes orientadas pela ideia de mandatos coletivos, onde o grupo se dedicou a elaborar Projetos de Lei Municipais destinados a promover a implantação de políticas públicas de Ecobairros. Esses projetos serão entregues na Câmara Municipal, conforme combinado em nossa visita à Casa, no dia 3 de outubro.

 

Assim, nos trabalhos pedagógicos sobre as eleições, não buscamos defender ou agredir partidos ou propostas, mas trabalhamos para ultrapassar a ideia de que o debate político se dá somente em período de eleição, para refletir sobre a política para além do voto. Perceber que as questões políticas e os temas relevantes para a sociedade são parte de nossas vidas coloca as e os estudantes a pensar que a política está em nosso cotidiano e não somente na urna a cada 2 anos. Essa reflexão nos ajuda a entender, por exemplo, que uma marcha que envolveu centenas de milhares de pessoas, organizada por diversos coletivos de mulheres, não teve o objetivo de apoiar determinado partido político, e que seu foco foi mais amplo e profundo: a liberação da opressão histórica de uns sobre outras.

Nesse sentido, debate não é exatamente um substantivo – concreto, estável e estanque –, pois,  aproxima-se muito mais da dinâmica e movimento de um verbo. O verbo que deve ser praticado todo dia, porque só assim, se colocando em disposição a dialogar, escutar e aceitar, podemos nos liberar da tragédia criada pela convicção de “só o que eu digo importa”, e de que “o outro é um ser abominável se expressar um pensamento que difere do meu”. O trabalho pedagógico consiste exatamente nisso, recuperar e construir permanentemente o trilho onde as palavras deixarão de sair e retornar vazias de significado. 

Ressaltamos, por fim, que admitir a amplitude do que é fazer/debater/atuar na política é uma grande contribuição para que possamos, coletivamente, superar esses tempos áridos de ódio, violência e anulação de subjetividades e corporalidades diversas.  A aridez exige exatamente que nos movamos mais, como educadoras, educadores, indivíduos, comunidade. A proposta de abrir o leque de informações, estimular o debate e contrapor propostas é, no fundo, uma convicção de que os jovens de hoje possuem total capacidade de reescrever o futuro, porque isso sempre é possível; é aí que reside a força da política como prática coletiva e de respeito à diversidade de posicionamentos. Dentro desta atitude de construir outros imaginários para nossa vida em comum, este nosso trabalho pedagógico está longe de terminar. Ele se estende ao longo de toda a vida.

quinta-feira, 13 de setembro de 2018

PIC: PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Orientação: Professora Rosana Maria Dell'Agnolo - Ducha


A nossa escola costura o tecido que permeia o ensino e a aprendizagem por meio de Projetos, proposta pedagógica essa que é transversal em todos os segmentos. Muitas vezes, ao chegarmos ao Ensino Médio, as disciplinas de Ciências da Natureza e exatas encontram maior eficiência na aprendizagem significativa dos alunos pela superação de um ensino tradicional fragmentado, encontrando uma alternativa viável no estudo e elaboração de projetos de pesquisa.

Com o objetivo de ampliar e aprofundar o pensamento científico dos alunos, que partem para a vida acadêmica nas universidades, o PIC vem desenvolver habilidades e competências para que os jovens estejam munidos de capacidade de reflexão, de resolução de problemas, de trabalho colaborativo e essencialmente capacitados para usar o método científico nos desafios que surgirão profissionalmente.

O PIC acontece às quintas-feiras em encontro de uma hora iniciando às 13h15. Nossos alunos são divididos em grupos de práticas a serem desenvolvidas, roteiros a serem escritos e conhecimento a ser trocado, de forma colaborativa, em aulas de Ciências da Natureza.  Vencer as dificuldades de aprendizagem dos conceitos essenciais da sabedoria humana constrói rumos qualitativamente mais adequados para que os jovens se estimulem e se interessem em responder às indagações comuns na evolução do pensamento.

A incansável busca de modalidades didáticas para que os alunos ultrapassem as dificuldades de aprendizagem nos conceitos de Ciências da Natureza nos remete às origens de nossa área: é pesquisando que se aprende mais, é ensinando que solidificamos nosso conhecimento e é na cultura do conflito de ideias que se estimulam ações inovadoras.


Algumas indagações docentes em relação a inserir a Iniciação Científica no projeto escolar são pesquisadas há muito na comunidade acadêmica e elas nos trazem respostas quantitativamente positivas:

 - Os alunos que já vivenciaram, mesmo que parcialmente,  iniciação científica, melhoraram em:
  • Comprometimento com os estudos.
  • Desempenho na diversidade das disciplinas por adquirirem hábitos de melhor participação nas atividades. 

Reconhecemos aprendizagem em construção, quando:

Alunos pesquisadores debruçam sobre conceitos científicos que devem ser abordados com o rigor que a ciência necessita, desde o início do curso de Ciências. 

A nossa proposta foi preparar os alunos do Ensino Médio para trabalharem os conteúdos das Ciências Naturais com experimentos no Laboratório, orientando os alunos do Fundamental I. Sendo assim, os jovens se sentem “monitores” de uma aula de ciências, onde o saber de quem estudou será compartilhado com quem principia a jornada desse conhecimento. 

Os dois grupos se potencializam pois o discurso mais comum no grupo PIC é: 

“Aprendo melhor e me organizo melhor quando tenho que ensinar!”


Alunos Protagonistas da sua própria evolução de competências e habilidades

Alguns depoimentos relevantes que traduzem os movimentos gerados na implantação de um ensino colaborativo que prioriza o protagonismo do aluno:

“Senti que fui importante para o aluno se sentir incentivado a fazer perguntas...”

“Nunca pensei que iria gostar tanto de estudar um assunto da escola... mas percebi que saber é bom demais...”

“Usar o grupo das redes sociais que criamos para o PIC agora virou febre para discutirmos os ensaios que estão acontecendo.”

“Parece que mudei de “Status”... de quem era mau aluno para quem está mais "sabido".

quinta-feira, 26 de julho de 2018

Lugar para criar

 Por Theodora M. Mendes de Almeida - Tica

“Não há um lugar determinado para criação. Cada pessoa encontra um canto, um jeito de organizar os materiais e as ideias para o processo criativo. Na arte contemporânea, os artistas usam materiais muito diversos e seus locais de trabalho podem ser nada convencionais. A arte também pode acontecer na rua, e um ateliê pode ser montado em local público.

O ateliê pode expressar um universo particular ou coletivo. Às vezes os artistas se encontram para conversar e criar arte. Muitos artistas criam grupos para discutir ideias e para produzir. Às vezes, a criação de um grupo ocorre intencionalmente, com pessoas convidadas a participar. Em outras, os grupos são formados de maneira espontânea, em círculo de amigos.”

Do livro Arte – Por Toda Parte da Editora FTD

Desde o início, nossa escola respira Arte. Desde quando eu era aluna, as aulas de artes já eram muito intensas e a produção acontecia diariamente, com todos os alunos, de todas as idades, em todos os lugares.

Durante muitos anos, o espaço especialmente destinado para as aulas de Artes foi o ateliê, anexo ao prédio da escola. Agora, por circunstâncias diversas, voltamos a organizar este espaço no centro de nossa escola. 


Eu e o João tivemos a ajuda de uma equipe de colaboradores muito dedicados e trabalhamos muito durante este mês de julho para trazer tudo o que julgamos interessante para compor um “novo” espaço de criação dentro da escola.


Tintas de diversos tipos e cores, papéis variados, colas, pincéis de todos os tamanhos, tecidos, retalhos de madeira, ferramentas, telas, revistas, jornais, lápis de cor, giz de cera, giz pastel, e uma infinidade de materiais inusitados estão aguardando os nossos pequenos e grandes artistas.


Experimentar, manusear, tocar, pintar, cortar, picar, pincelar, quantos verbos pedem o fazer artístico!

Para alimentar as ideias, há duas estantes repletas de livros de Arte de todos os tempos e de muitos artistas selecionados. Organizamos este acervo dentro deste novo espaço para que os alunos e alunas tenham acesso e para enriquecer os momentos de criação e inspiração.

Temos ainda uma coleção de imagens de obras de artistas diversos, impressas ou em arquivo digital, para incentivar a habilidade de leitura de imagens, de signos, de símbolos que compõem a Arte. Isto também ajuda a nutrir os conhecimentos anteriores e amplia a visão de mundo e as experiências de cada um.

Tantos trabalhos incríveis já foram produzidos por aqui nestes 52 anos: pintura, escultura, instalação, técnicas variadas... Seja lá qual for a escolha agora, nossos alunos e alunas estão convidados a trazer sua imaginação criativa e seu entusiasmo para as aulas de Artes com a Tânia e com todos os professores que também estão envolvidos com o uso das linguagens artísticas para ensinar, aprender e se expressar.

Mas, para onde foi a biblioteca? Este é um assunto para um próximo texto...  Até lá!

quinta-feira, 19 de julho de 2018

Festa Junina na Praça

20180630_152337.jpg         Por João Mendes Jr

A tradição das festas juninas remonta a um passado ligado aos cultos ancestrais das pequenas comunidades agrícolas de muitos povos da antiguidade como na Roma e Egito antigos. Ligada, no hemisfério norte, ao começo do verão e às colheitas, as festas solsticiais foram incorporadas pela tradição cristã nas figuras dos santos e apóstolos, conferindo-lhes atributos e caráter religioso. Daquele tempo para cá as festas tomaram um profundo caráter comunitário, da união de vizinhos para celebrar, dançar e compartilhar boa comida. E, entre nós brasileiros, o destaque é a preservação do folclore em suas várias manifestações: religiosas, musicais, gastronômicas, de vestimentas e de brincadeiras. Nas megacidades como a São Paulo em que vivemos, os encontros comunitários se perderam cedendo aos temores com segurança e ao gigantismo dos eventos, causando transtornos. O individualismo de nossas vidas nos impedem de conhecer nossos vizinhos - a quem tomamos como estranhos - quanto mais de celebrarmos ou nos divertimos com eles. A manutenção da tradição junina, nos grandes centros ficou, assim, restrita às escolas e a pequenos grupos locais. Um importante movimento tem defendido o “desemparedamento” das escolas, ou seja, levar os alunos e alunas para fora de seus muros, vivenciando experiências de aprendizagem mais concretas e de contato com o mundo real que a cerca e a trazer para dentro do espaço escolar o saber e vivências locais. Dentro deste espírito, resolvemos realizar nossa festa deste ano fora do ambiente escolar, em uma praça, junto com a comunidade das vilas Beatriz, Ida e Jataí com a qual temos partilhado diversas ações de conscientização, melhorias nos nossos bairros e compartilhamento de sonhos de uma sociedade melhor.

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O mote da festa Lixo Zero e a busca da criação de um Ecobairro encampada pelos bairros veio, de maneira feliz, ao encontro de nosso projeto pedagógico deste ano, ampliando as possibilidades de interação e concretização da proposta.
As tradicionais brincadeiras como pesca, bola ao alvo, argolas e canaletas adaptadas ao tema da preservação do meio ambiente e tendo como suporte a nossa já tradicional troca de brinquedos, o compartilhamento de doces e salgados na mesa comunitária, passando pela experiência de poder conhecer o uso das PANCs (Plantas Alimentícias Não Convencionais) e do aproveitamento de produtos da “xepa” da feira em salgados e tortas, tudo foi pensado para o combate ao consumismo e ao desperdício.
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Levar alunos e alunas para apresentarem suas danças fora do espaço conhecido da escola, enfrentando um público maior e desconhecido foi, ainda, uma experiência para o desenvolvimento de novas habilidades. Para os mais velhos a extensão da festa até o período noturno, com música ao vivo de grande qualidade, foi um diferencial.
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A realização neste formato de festa exigiu trabalho e adaptações para que atingisse, como acreditamos que atingimos, o sucesso e a integração ao projeto pedagógico, em uma dia especialmente alegre. A questão levantada por alguns pais em relação à segurança e estrutura do evento foi superada pelo caráter estritamente familiar e comunitário da festa que não é divulgada abertamente em redes sociais, sendo voltada para a vizinhança.
Os alunos e alunas da 3ª série do Ensino Médio tiveram um aprendizado extra ao cuidar de uma barraca de doces típicos dentro festa. Além de trabalhar no preparo e durante o dia todo no dia do evento, tiveram muitas discussões em grupo para conseguir chegar a consensos nem sempre fáceis para adolescentes. O lucro obtido será revertido para a formatura.
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A comunidade em torno da escola, responsável pela organização geral da festa, ficou bem satisfeita com a aproximação da escola aos grupos de trabalho e tem como expectativa como fruto desta, um maior envolvimento das famílias nas ações, reuniões e demandas dos bairros. Esperamos que esta ação seja inspiradora de um movimento maior, dentro da casa de cada família, de redução do desperdício e do lixo, de conscientização ambiental, de integração comunitária e de vizinhança solidária para que todo este aprendizado seja realmente significativo. Gostaríamos de saber, também, a sua opinião sobre a festa, pedindo que respondam ao formulário que segue:

quinta-feira, 7 de junho de 2018

As Ciências Humanas e o Estudo do Meio em Paraty

Por João Francisco Branco


Nos dias 26, 27 e 28 de maio deste ano, as alunas e os alunos do Ensino Médio partiram para a viagem de Estudo do Meio com destino a Paraty, no Rio de Janeiro. Podemos dizer que foram dias marcantes dentro de uma jornada que está envolvendo muita aprendizagem e a valorização da memória e da preservação. 

Eleger uma pedagogia estruturada por projetos requer uma aproximação entre as disciplinas e a busca constante por outras formas de ensino e aprendizagem. Dentro desta proposta, o Estudo do Meio tem papel central, marcando o aprendizado e as vivências de estudantes, professoras e professores; neste sentido, acabamos de retornar de um momento fundamental para a sequência das atividades que permeiam a proposta do Hugo para este ano, cabendo a lembrança de que a proposta que reúne toda a escola é abordar os vários aspectos  relacionados aos Problemas Ambientais Globais que estamos enfrentando. Trata-se de um grande desafio, porque o intuito não é somente elencar as causas, cenários e projeções para uma questão tão problemática, mas, também, conhecer experiências que enfrentam esta realidade e propõem soluções, alternativas e reflexões sobre este drama que interdita a vida no planeta.

E assim, foi com este propósito que Paraty entrou em nosso projeto interdisciplinar. Mas por que Paraty? Qual seria o lugar da História e das Ciências Humanas nos estudos sobre o processo de agressão ou de preservação do meio ambiente? Bem, a verdade é que Paraty é um daqueles lugares onde os percursos da História permitiram sua conservação; e assim cristalizou-se uma cidade, um lugar, com muitas particularidades. Isso tem a ver com a enorme diversidade relacionada ao bioma, a proximidade da Mata Atlântica, os recortes do mar, os rios, a beleza natural, o conjunto arquitetônico preservado... mas não só! Também tem muita relação com as diversas culturas que se mantém na região: Paraty é um lugar formado por povos. E entendemos que refletir sobre os problemas que colocam em risco a biodiversidade é também pensar sobre a preservação da diversidade cultural. 

A partir desta relação, escolhemos uma palavra para guiar esta jornada, ainda no espaço das aulas que antecederam nossa saída. Pensamos sobretudo nos diversos significados que a palavra preservação carrega... e assim esta ideia se tornou o fio condutor de nossa viagem: iniciamos uma jornada de reflexão sobre a preservação da memória e a preservação da diversidade cultural como elementos importantes para nos envolvermos com a questão da preservação ambiental. Afinal, antes de ir, nos perguntamos: o que significa preservar a memória social, a história de um país, suas culturas, preservar o meio ambiente? Qual a importância para a formação de uma sociedade? Como cuidar da memória? Como valorizar nossa cultura a partir da memória? O que tudo isso tem a ver  conosco individualmente e como grupo?

A grande possibilidade que o Estudo do Meio traz é a aventura do aprendizado e do conhecimento a partir da experiência. Sabendo disso, ao longo da preparação para a viagem tivemos o cuidado de introduzir os variados temas com os quais os/as estudantes iriam se deparar. A História de Paraty foi abordada a partir de diferentes ângulos que podem se complementar: a História da cidade, a importância do Patrimônio como preservação da Memória, da arquitetura e da cultura, as festas tradicionais de Paraty, as questões ambientais, as populações tradicionais e os povos caiçaras da região (sua cultura, saberes, viveres). Uma introdução com a dosagem certa para não retirar da viagem o prazer da descoberta e da memória que é criada depois de se viver a experiência. Por alguns dias, o aprender encontrou outros caminhos e novos contornos, tocando diretamente a realidade.

O sentido da preservação, tão intrínseco aos cuidados com o meio ambiente, também se nota no reconhecimento de Paraty como Patrimônio. Aprendemos que a designação de Patrimônio Histórico traz dentro de si a importância da preservação da História e da cultura de um lugar, e isto só é possível se nos preocuparmos com a preservação da memória que remete a este espaço. Ou seja, não bastava direcionar o olhar e a escuta apenas para uma preocupação com a preservação ambiental que estivesse separada da preservação das pessoas e das culturas tradicionais. Como nos contou a guia Regina, durante nosso percurso pelo centro histórico, as culturas populares de Paraty fazem questão de se colocarem como a memória viva da cidade; em suas palavras, “vivem o ontem, o hoje e o amanhã”, exatamente porque fazem parte daquele lugar.

 

É gratificante notar que este pensamento se concretizou durante e depois que retornamos da viagem. Nos textos que escreveram sobre o significado da ida a Paraty, os estudantes exercitaram, com muita propriedade, este olhar que foi capaz de articular as propostas de cada atividade, como observar as construções arquitetônicas, a importância dos manguezais e os efeitos causados pela ocupação urbana, a análise de diferentes amostras de água e a responsabilidade que temos em relação a seu uso, sem deixar de enxergar as pessoas que fazem parte deste lugar. Problematizaram inclusive a questão da ocupação do centro histórico de Paraty, observando o acúmulo de resíduos causado pela intensa circulação de turistas, as subidas das marés e seus efeitos na parte urbana da cidade, enfim, estes momentos que a humanidade aprende que não é possível controlar todas as ações da natureza. 



Aprendemos, também, que não existe apenas uma possibilidade, uma forma correta de viver, e que outras comunidades vivem de outras maneiras e que também estão buscando soluções no que toca à questão do saneamento, do tratamento da água e da destinação de resíduos, sem deixar de pensar no entorno onde vivem. Este modelo foi visto na comunidade EMAÚS, por exemplo, uma ONG criada na França com o objetivo de tirar moradores de rua desta situação, e que conta com uma unidade em Ubatuba. Esta unidade conta com 25 casas além de um espaço para agricultura, de onde vem boa parte da comida consumida na comunidade. Como bem descreveu um dos nossos estudantes, “para desenvolver a agricultura o Sr. Jorge (que é um líder  comunitário), com ajuda de biólogos e moradores, criou um sistema de saneamento básico que, por sua vez, não abastece apenas o Emaús, mas sim todo o bairro. A comunidade mantém uma relação saudável com o meio ambiente, sabendo usufruir dele ao mesmo tempo que o preserva”. 


Esta e tantas outras foram ótimas percepções sobre o sentido da viagem. Conhecer coisas novas e diversas, aprender com elas. Por fim, para além deste imenso sentido pedagógico, o Estudo do Meio envereda por questões subjetivas de cada estudante. Abre novas janelas para o relacionamento com os colegas, para conhecer outros lugares e pessoas diferentes, o que os leva até a se reconhecerem de uma forma que não imaginavam ser possível. Em muitos escritos, essa descoberta sobre si mesmo, sobre os colegas e sobre a união do grupo que a viagem propiciou, também foi mencionada.

Por esses e tantos outros motivos, a viagem a Paraty, em meio à sua reconhecida importância de encontrar a História, tornou-se também um espaço para tecer memória entre os colegas que foram para o Estudo. E quantas são as lembranças que pudemos colher de lá, nos momentos de trabalho e nos momentos de lazer, no exercício de escuta pelos diversos lugares que visitamos, na forma natural como o convívio e a aprendizagem se misturam para criar um momento marcante na vida de cada um e no grupo. É que, afinal de contas, a memória nos dá sentido comum: cria sujeitos coletivos, nem individualistas nem competitivos. Nestes dias que sucederam a viagem, nós, professores, estamos vendo como isso vem se materializando nas salas de aula. 

Uma viagem de Estudo de Meio é um processo completo de aprendizagem porque deriva da experiência. Não à toa, nossos estudantes retornaram destes três dias cheios de histórias e lembranças para contar. E, dentro de toda esta vivência, vimos que a questão da preservação transcende os problemas com o desmatamento, poluição e consumo. Tem a ver conosco e sobre como nos relacionamos com os outros e com o mundo, a partir do cuidado com o bem comum. Que nossos estudantes desfrutem das próximas viagens, estas que vêm da inesgotável capacidade de aprender e de ser e estar no mundo!


quarta-feira, 16 de maio de 2018

Varal poético

 Por André Judice


Os alunos da 3ª série do Ensino Médio estudaram neste primeiro trimestre o gênero poético nas aulas de Português e, em especial, a obra Claro Enigma (1951), de Carlos Drummond de Andrade. O trabalho de sensibilização, leitura e pesquisa foi árduo, pois se trata de uma das obras de análise mais complexa da lista do vestibular da Fuvest. O livro aborda a fase de uma poesia de cunho mais filosófico, existencial, o amor, a passagem do tempo, a lembrança do passado familiar, Minas Gerais. Vai de Dante Alighieri a Camões e por isso faz uso de forma e dicção clássicas, mas sem deixar de ser moderno. É produto de uma visão de mundo que o afasta das crises políticas pós Segunda Guerra Mundial. E para entender o que o eu lírico de Drummond tentava nos dizer, foi preciso compreender o contexto de época, outros autores, outras formas de expressão artística. 


Em Claro enigma, considerado ao lado de A rosa do povo o ápice da trajetória poética de Drummond de acordo com a crítica literária, estão reunidos alguns dos maiores poemas drummondianos, como a “A máquina do mundo", lírico-amorosa, como "Memória" ou os de temática familiar, como "Ser".

Ao conhecer Claro Enigma e as suas temáticas, às vezes percebia-se que a atmosfera da sala de aula se tornava densa, pois nos exercícios de análise poética era preciso transpor a barreira do vocabulário às constatações dos críticos, exigiam dos alunos muita reflexão. O desanuviar de cada aula se dava na prática. Confesso que me surpreendia a cada voz poética que criavam. Escreveram pensamentos, angústias, alegrias, vontades repentinas. Sabe-se lá de quem eram essas vozes que surgiam em suas obras! O que importa aqui é o reconhecimento por parte deles de um gênero literário e uma atitude do fazer poético. 


O registro e o modo de expor alguns dos poemas que o alunos realizaram foi inspirado nos varais da Literatura de Cordel, nome que tem origem na forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para venda, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes em Portugal, e a qual o Nordeste do Brasil herdou.



Desse modo, convidamos os nossos amigos do Colégio Hugo Sarmento a conhecer e a participar desse trabalho. É muito fácil, basta pendurar o seu poema no nosso varal. 

Fontes de pesquisa: 

Camilo, Vagner. Drummond – Da Rosa do Povo à Rosa das Trevas.  São Paulo: Ateliê Editorial, 2005 (1ª edição: 2001). 

CARLOS Drummond de Andrade. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú Cultural, 2018. Disponível em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa12894/carlos-drummond-de-andrade>. Acesso em: 12 de Mai. 2018. Verbete da Enciclopédia.

quarta-feira, 9 de maio de 2018

A relação da Geografia com o projeto e o Estudo de Campo na escola

Por Judith Nuria Maida 


“A verdadeira viagem de descobrimento não consiste em procurar novas paisagens, e sim, em ter novos olhos.”
Marcel Proust

Este ano, o tema do projeto na escola é “Problemas Ambientais Globais”.  

É o trabalho através do projeto que nos permite articular os conhecimentos específicos dos componentes curriculares em torno de um eixo norteador comum e, portanto, funciona como referência para a integração dos saberes, o que proporciona a “costura” das diversas áreas. 

No caso específico da Geografia, o tema “Problemas Ambientais Globais” contempla um objetivo maior, que é compreender a formação e processos transformadores da paisagem e do espaço geográfico como consequências da ação antrópica sobre o planeta. Nesse sentido, a questão ambiental está diretamente relacionada aos conteúdos que trabalhamos em nossas aulas, uma vez que diz respeito ao modo pelo qual a humanidade busca produzir bens para melhorar suas condições de vida, o que provoca grandes alterações nos sistemas naturais  principalmente solo, relevo, clima, hidrografia e vegetação  que são conteúdos amplamente trabalhados desde o 6º ano, em nossa escola.

O debate sobre o meio ambiente está, cada vez mais, presente na pauta da agenda mundial. Para o enfrentamento dos problemas ambientais  poluição do ar e das águas, contaminação dos solos, erosão, desmatamentos, produção de lixo, efeito estufa, entre outros  e suas consequências, é necessária uma visão ampla da realidade que envolve vincular três esferas do desenvolvimento sustentável: desenvolvimento humano, crescimento econômico e a preservação ambiental.  

Dessa forma, trata-se de um assunto que requer interface com praticamente todos os campos do conhecimento e, por este motivo, abordar os “Problemas Ambientais Globais” conversa diretamente com a concepção metodológica da escola, onde procuramos promover a interdisciplinaridade e a troca de saberes entre educadores e educandos sob uma perspectiva integradora e reflexiva sobre a realidade.

Dentro da pedagogia de projetos, acreditamos que as estratégias de ensino-aprendizagem mais potentes são aquelas em que o aluno se vê implicado naquilo que estuda, como agente transformador, deixando de lado uma posição passiva frente ao conhecimento e tornando-se protagonista. É nessa perspectiva que se insere o estudo de campo que realizaremos nos dias 18, 19 e 20 de maio.  Por meio dessa viagem, os alunos poderão vivenciar e experimentar situações reais que objetivem suas hipóteses sobre diversos fenômenos naturais e sociais.

Portanto, a viagem de estudo de campo é, para nós, um momento muito importante na prática pedagógica, pois representa uma oportunidade para enriquecer o conhecimento e colocar em prática aquilo que é trabalhado diariamente em sala de aula.

Especificamente, o estudo de campo tem como objetivo permitir ao/à estudante a experimentação na produção do conhecimento, o que significa tornar-se mais habituado ao processo de analisar a realidade que o cerca, problematizar suas questões, buscar embasamento para desenvolver seu trabalho, coletar dados para afirmar ou refutar suas hipóteses, bem como a produção e a divulgação do conhecimento científico e suas articulações com a sociedade. Em última análise, importa-nos que o aluno se perceba como um agente crítico perante as questões relacionadas à ciência e ao seu uso e que desenvolva maior autonomia para percorrer seu caminho como estudante.

Para tanto, é necessário instrumentalizar os alunos com procedimentos e métodos nas diversas áreas do conhecimento  daí o seu caráter interdisciplinar  que permitirão a eles estabelecer critérios para tomada de decisões, a fim de desenvolver sua autonomia intelectual. 

Nas aulas de Geografia, esses procedimentos vêm sendo desenvolvidos por meio de leituras complementares, discussões realizadas em aulas, análises de situações-problema, levantamento de dados, leitura e produção de mapas, gráficos e tabelas, dentre outras possibilidades.


A escolha do local para realização do estudo de campo buscou oferecer oportunidades enriquecedoras de vivência daquilo que é discutido em teoria, possibilitando análises o mais próximas possível da realidade, quando muitos dos procedimentos desenvolvidos na problematização, produção e o uso daquilo que estudamos serão desenvolvidos na prática.

Por conta do tema do projeto, o local escolhido para o estudo de campo desse ano, é a região do Lagamar, composta por uma diversidade de ecossistemas litorâneos do Vale do Ribeira: Iguape, Cananeia, Ilha do Cardoso e Ilha Comprida. Consideramos ser de suma importância que os alunos conheçam uma região rica em diversidade de ambientes naturais, onde possam relacionar a dinâmica social, política e econômica com os impactos ambientais que ameaçam esse patrimônio natural.  Dessa forma, o estudo do campo serve de laboratório para o tema central do projeto.


Preservação Ambiental, Biodiversidade, Patrimônio Histórico e Cultural, Unidades de Conservação e comunidades locais são alguns dos assuntos que trataremos na Ilha do Cardoso, através do contato direto com a natureza, população local, participando de manifestações culturais, identificando questões ambientais, entrevistando comunidades locais, discutindo titulação de terras e a importância da preservação dos diversos ambientes litorâneos.

Em Iguape teremos ainda atividades no Morro do Espia, Valo Grande e no centro histórico. Em Cananeia as atividades serão na comunidade Quilombola Mandira, onde mais de 25 famílias trabalham com o manejo de ostra.

Estruturar o estudo de campo dialogando diretamente com o projeto interdisciplinar da escola requer muitos estudos do grupo de professores e uma dinâmica que permita encantar e envolver os alunos para uma reflexão sobre a questão central. 

Acreditamos que esse momento de imersão em realidades distintas, somado aos outros desenvolvidos em ambiente escolar, leve os alunos a refletir com propriedade e responsabilidade sobre as relações do Homem com a Sociedade e do Homem com o meio que o cerca e propor soluções para enfrentar os problemas ambientais globais.

Boa viagem e bons trabalhos!