Nos dias 26, 27 e 28 de maio deste ano, as alunas e os alunos do Ensino Médio partiram para a viagem de Estudo do Meio com destino a Paraty, no Rio de Janeiro. Podemos dizer que foram dias marcantes dentro de uma jornada que está envolvendo muita aprendizagem e a valorização da memória e da preservação.
Eleger uma pedagogia estruturada por projetos requer uma aproximação entre as disciplinas e a busca constante por outras formas de ensino e aprendizagem. Dentro desta proposta, o Estudo do Meio tem papel central, marcando o aprendizado e as vivências de estudantes, professoras e professores; neste sentido, acabamos de retornar de um momento fundamental para a sequência das atividades que permeiam a proposta do Hugo para este ano, cabendo a lembrança de que a proposta que reúne toda a escola é abordar os vários aspectos relacionados aos Problemas Ambientais Globais que estamos enfrentando. Trata-se de um grande desafio, porque o intuito não é somente elencar as causas, cenários e projeções para uma questão tão problemática, mas, também, conhecer experiências que enfrentam esta realidade e propõem soluções, alternativas e reflexões sobre este drama que interdita a vida no planeta.
E assim, foi com este propósito que Paraty entrou em nosso projeto interdisciplinar. Mas por que Paraty? Qual seria o lugar da História e das Ciências Humanas nos estudos sobre o processo de agressão ou de preservação do meio ambiente? Bem, a verdade é que Paraty é um daqueles lugares onde os percursos da História permitiram sua conservação; e assim cristalizou-se uma cidade, um lugar, com muitas particularidades. Isso tem a ver com a enorme diversidade relacionada ao bioma, a proximidade da Mata Atlântica, os recortes do mar, os rios, a beleza natural, o conjunto arquitetônico preservado... mas não só! Também tem muita relação com as diversas culturas que se mantém na região: Paraty é um lugar formado por povos. E entendemos que refletir sobre os problemas que colocam em risco a biodiversidade é também pensar sobre a preservação da diversidade cultural.
A partir desta relação, escolhemos uma palavra para guiar esta jornada, ainda no espaço das aulas que antecederam nossa saída. Pensamos sobretudo nos diversos significados que a palavra preservação carrega... e assim esta ideia se tornou o fio condutor de nossa viagem: iniciamos uma jornada de reflexão sobre a preservação da memória e a preservação da diversidade cultural como elementos importantes para nos envolvermos com a questão da preservação ambiental. Afinal, antes de ir, nos perguntamos: o que significa preservar a memória social, a história de um país, suas culturas, preservar o meio ambiente? Qual a importância para a formação de uma sociedade? Como cuidar da memória? Como valorizar nossa cultura a partir da memória? O que tudo isso tem a ver conosco individualmente e como grupo?
A grande possibilidade que o Estudo do Meio traz é a aventura do aprendizado e do conhecimento a partir da experiência. Sabendo disso, ao longo da preparação para a viagem tivemos o cuidado de introduzir os variados temas com os quais os/as estudantes iriam se deparar. A História de Paraty foi abordada a partir de diferentes ângulos que podem se complementar: a História da cidade, a importância do Patrimônio como preservação da Memória, da arquitetura e da cultura, as festas tradicionais de Paraty, as questões ambientais, as populações tradicionais e os povos caiçaras da região (sua cultura, saberes, viveres). Uma introdução com a dosagem certa para não retirar da viagem o prazer da descoberta e da memória que é criada depois de se viver a experiência. Por alguns dias, o aprender encontrou outros caminhos e novos contornos, tocando diretamente a realidade.
O sentido da preservação, tão intrínseco aos cuidados com o meio ambiente, também se nota no reconhecimento de Paraty como Patrimônio. Aprendemos que a designação de Patrimônio Histórico traz dentro de si a importância da preservação da História e da cultura de um lugar, e isto só é possível se nos preocuparmos com a preservação da memória que remete a este espaço. Ou seja, não bastava direcionar o olhar e a escuta apenas para uma preocupação com a preservação ambiental que estivesse separada da preservação das pessoas e das culturas tradicionais. Como nos contou a guia Regina, durante nosso percurso pelo centro histórico, as culturas populares de Paraty fazem questão de se colocarem como a memória viva da cidade; em suas palavras, “vivem o ontem, o hoje e o amanhã”, exatamente porque fazem parte daquele lugar.
É gratificante notar que este pensamento se concretizou durante e depois que retornamos da viagem. Nos textos que escreveram sobre o significado da ida a Paraty, os estudantes exercitaram, com muita propriedade, este olhar que foi capaz de articular as propostas de cada atividade, como observar as construções arquitetônicas, a importância dos manguezais e os efeitos causados pela ocupação urbana, a análise de diferentes amostras de água e a responsabilidade que temos em relação a seu uso, sem deixar de enxergar as pessoas que fazem parte deste lugar. Problematizaram inclusive a questão da ocupação do centro histórico de Paraty, observando o acúmulo de resíduos causado pela intensa circulação de turistas, as subidas das marés e seus efeitos na parte urbana da cidade, enfim, estes momentos que a humanidade aprende que não é possível controlar todas as ações da natureza.
Esta e tantas outras foram ótimas percepções sobre o sentido da viagem. Conhecer coisas novas e diversas, aprender com elas. Por fim, para além deste imenso sentido pedagógico, o Estudo do Meio envereda por questões subjetivas de cada estudante. Abre novas janelas para o relacionamento com os colegas, para conhecer outros lugares e pessoas diferentes, o que os leva até a se reconhecerem de uma forma que não imaginavam ser possível. Em muitos escritos, essa descoberta sobre si mesmo, sobre os colegas e sobre a união do grupo que a viagem propiciou, também foi mencionada.
Por esses e tantos outros motivos, a viagem a Paraty, em meio à sua reconhecida importância de encontrar a História, tornou-se também um espaço para tecer memória entre os colegas que foram para o Estudo. E quantas são as lembranças que pudemos colher de lá, nos momentos de trabalho e nos momentos de lazer, no exercício de escuta pelos diversos lugares que visitamos, na forma natural como o convívio e a aprendizagem se misturam para criar um momento marcante na vida de cada um e no grupo. É que, afinal de contas, a memória nos dá sentido comum: cria sujeitos coletivos, nem individualistas nem competitivos. Nestes dias que sucederam a viagem, nós, professores, estamos vendo como isso vem se materializando nas salas de aula.
Uma viagem de Estudo de Meio é um processo completo de aprendizagem porque deriva da experiência. Não à toa, nossos estudantes retornaram destes três dias cheios de histórias e lembranças para contar. E, dentro de toda esta vivência, vimos que a questão da preservação transcende os problemas com o desmatamento, poluição e consumo. Tem a ver conosco e sobre como nos relacionamos com os outros e com o mundo, a partir do cuidado com o bem comum. Que nossos estudantes desfrutem das próximas viagens, estas que vêm da inesgotável capacidade de aprender e de ser e estar no mundo!
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