quarta-feira, 20 de maio de 2015

Brincando em serviço

Uma reflexão sobre brincar e jogar na hora do recreio livre
Por Thiago Ferreira

Toda cultura tem seus códigos – o conjunto de leis, os rituais que marcam as fases da vida, os protocolos sociais, os sistemas de ensino, a organização do trabalho e as linguagens. Nessa diversidade, os jogos e as brincadeiras estão presentes em todas as culturas, nos mais diferentes períodos históricos. Conhecer os jogos e brincadeiras é apropriar-se de cultura e esse ciclo é mantido por uma demanda de identidade, como explica o professor Marcos Garcia Neira em “ O ensino das práticas corporais na escola”:

É por meio de suas produções que as pessoas estabelecem uma relação comunicativa com a sociedade. Isso implica o entendimento dos artefatos culturais como textos passíveis de leitura e significação. Assim, as práticas corporais podem ser compreendidas como meios de comunicação com o mundo, constituintes e construtoras de cultura. 

Um simples gesto é capaz de passar uma informação, um corpo pode ampliá-la e um grupo é capaz de produzir um texto. Pensando por esse prisma fica mais fácil entender a educação estar incluída na área de linguagens. Nosso país tem suas regionalidades nas brincadeiras e jogos e, com uma observação simples, é possível perceber neles uma série de aspectos culturais.

Segue um link com diversas práticas de jogos e brincadeiras no Brasil: 
Clique aqui e assista também ao primeiro trailer do filme de Renata Meirelles (ex-aluna do Colégio) sobre as brincadeiras. 

Escola também é lugar de brincar e jogar; aqui no colégio dedicamos um olhar especial para garantir a qualidade das relações, o uso do espaço coletivo e facilitar as práticas quando necessário.

 
É bastante comum o grupo de alunos escolher brincadeiras que aprenderam na escola, caracterizando a apropriação da troca de informações; como exemplo, podemos citar as variações do jogo de queimada ou as diferentes maneiras de brincar de pega-pega. A hora do recreio faz um convite ao mundo do jogo e da brincadeira. Brincar é seguir combinados, colaborar e fazer da diversão o objetivo final. A definição do brincar é ter um fim em si mesmo e, nesses momentos, a integração está garantida.

Observar o recreio, o grupo, o que fazem e como fazem, é uma janela aberta para o entendimento de como são adquiridos nossos códigos sociais e como se apropriam
da cultura e a modificam. Nos jogos, dentre um vasto repertório possível, o futebol, por vários motivos, tem sido o escolhido. O futebol só fica entediante se houver desequilíbrio nas partidas, um time muito mais forte, por exemplo. Não é o que acontece; ainda que a quadra esteja cheia,  com muitos integrantes nos times, quem participa já domina o conjunto de regras e são feitos combinados do tipo “5 minutos ou 2 gols”.

 

As brincadeiras de perseguição, como pega-pega e rouba bandeira, têm seu lugar garantido, e chamo a atenção para um ponto interessante: os jogos e brincadeiras com caráter colaborativo também estão presentes, seja numa roda de embaixadinhas, seja em arremessar e receber bola de futebol americano, as crianças experimentam as opções e desenvolvem suas preferências.

 

Jogos coletivos competitivos (incluindo o pebolim), brincadeiras de perseguição (também competitivas), e brincadeiras colaborativas não são os únicos formatos; cito ainda mais dois, as brincadeiras de sorte e as de vertigem.

 

Começo com as de vertigem, aquelas que deixam adultos de cabelo em pé, como pular de dois ou mais degraus, virar estrela e cair na ponte (posição de yoga); todo conjunto de desafios corporais  são importantes, pois ajudam a superar os próprios medos.

 

Já as brincadeiras de sorte são incríveis, não fazendo diferença a habilidade, velocidade ou qualquer vantagem, pois basta conhecer as regras e, quem não as conhece, rapidamente pode participar como “café com leite”. Essas brincadeiras de sorte aparecem, dentre outros espaços, na sala de jogos, durante os recreios em dias chuvosos.

 

Observamos também os grupos que jogam online: é a turma do Minecraft. Eles adoram a possibilidade do desafio e de reconhecer os amigos na tela do tablet, criam e solucionam problemas entre si, na mesma plataforma. Ver essa roda de jogo explica o avanço da internet, das redes sociais e das opções que temos disponíveis graças ao avanço da tecnologia, um recorte que ilustra bem nossa organização social.


O universo de jogos e brincadeiras é apaixonante e olhar para isso com um “zoom” de cultura corporal acrescenta boas informações sobre nossa cultura e possibilita conhecer práticas novas. Questões importantes, valorizadas e realizadas aqui no colégio, pois sabemos que brincar é coisa séria!

Para quem se animou e quer conhecer uma brincadeira nova, deixamos um site para lembrar, conhecer e colocar em prática: http://mapadobrincar.folha.com.br/

REFERÊNCIAS

NEIRA, M. G. O ensino das práticas corporais na escola. In: Práticas corporais: brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas. São Paulo: Melhoramentos, 2014. p. 15-22.