quarta-feira, 31 de julho de 2019

Festa Junina na América Latina: como e por que juntar estes assuntos

Por Marco Pereira

Sabemos que a mistura de elementos indígenas, africanos e europeus caracterizou a formação cultural do Brasil e da América Latina.

No primeiro trimestre, passamos boa parte das nossas aulas de música ouvindo, discutindo e vivenciando o universo sonoro e sociocultural do século XIX e toda a sua complexidade de influências em nossa formação musical.

Muitas das nossas festas populares tiveram origem ou inspiração europeia e passaram por transformações em nosso território, assimilando diversas influências. Se os devotos portugueses e as quadrilhas francesas deixaram sua marca nas festas juninas deste lado do Atlântico, nada permaneceu intacto no caldeirão pulsante de culturas que aqui se criou.

Neste ano, em que a América Latina é tema do projeto da escola no 2º trimestre, incluímos algumas músicas da cultura tradicional desses povos nas nossas pesquisas e apresentações. A ideia foi homenagear e nos aproximar um pouco mais destas tradições sobre as quais conhecemos tão pouco.

E como são as raízes rurais ou regionais dos demais povos da América Latina? Foi este o mote que nos inspirou a buscar uma aproximação e promover este improvável encontro. De nossa pesquisa, nasceu o programa abaixo.

No Fundamental 1:

O 1º e o 2º anos dançaram “Ai que saudade d’ocê”, de Vital Farias, com interpretação de Elba Ramalho.

Em seguida, também apresentaram uma coreografia para a música peruana “Pandillero”. O termo “Pandillero” alude à pandilla, uma dança típica da região de Puno que mistura elementos espanhóis, franceses e indígenas.

A interpretação é dos Niños Sicuris da Juventude Obrera de Puno, com letra em Quechua e castelhano.

Sicuris é o nome do conjunto de tocadores de sicu, que é uma flauta feita com canos de bambu, cuja origem remonta aos instrumentos tubulares pré-colombianos. Os Niños Sicuris fazem parte de uma escola de Sicuris que tem como objetivo manter vivas as tradições do povo de Puno.

https://www.youtube.com/watch?v=w064FxjM9PQ&list=RDDyOt5KIvNyw&index=3


O 3º ano dançou um mix de “Chegança”, de Antonio Nóbrega, com “A Vida do Viajante”, de Luis Gonzaga e Hervé Cordovil. “A Vida do Viajante” é bem conhecida e dispensa apresentações. "Chegança" enaltece os povos indígenas brasileiros e alude de forma crítica ao momento da chegada dos portugueses e à criação do Brasil. Importante notar que “chegança” é também o nome de uma das variações dos autos de marujos, tradicionais na região nordeste, na qual Nóbrega se inspira.

Em seguida, a turma dançou a Cumbia “Aguacero em Mayo”. Cumbia é um gênero musical tradicional da Colômbia. A interpretação é de Totó La Momposina, cantora de grande prestígio na tradição colombiana e considerada uma das mais importantes representantes da música de sua costa caribenha. O parágrafo a seguir foi retirado de seu site oficial:
“La cumbia es uno de los ritmos y danzas de Colombia más conocidos. Este ritmo es poderosamente hipnótico y junto con la danza e su traje, un buen ejemplo de la mezcla de influencias indias, españolas y africanas.”  

https://www.youtube.com/watch?v=goTo4yNHXWM&list=RDDcos-vaMGdg&index=18


4º e 5º Anos: Estas turmas dançaram o xaxado “Mulher Rendeira”. Embora a canção tenha se notabilizado na versão registrada por Zé do Norte, sua autoria é controversa. Alguns sustentam que teria sido originalmente composta por Virgulino Ferreira - o Lampião - com a ajuda de “Volta Seca” - um cangaceiro de seu grupo - em homenagem ao aniversário da avó de Lampião, Maria Jocosa. Outros, dizem que já era cantada pela tradição oral muito antes de Lampião. A gravação que vamos ouvir é a do “Trio Nordestino”, um grupo tradicional de forró.

Em seguida, apresentaram “a chilena” “Las Amarillas”. “La Chilena” é uma dança mexicana da região de Guerrero, na Costa Chica. Seu nome se deve à sua origem, o Chile.

“Los sones del estado de Guerrero son alegres y vistosos ya que son representativos de los diferentes sones del estado. Estos sones se bailan en las fiestas tradicionales del patrono del pueblo e en los fandangos de tixtlade guerrero tambien en las diferentes bodas y cumpleaños. Alegria, fiesta y algarabia son los elementos de los bailes tradicionales de Mexico.”

“(…) Los danzantes pone énfasis en pasos fuertes y rítmicos que muchas veces forman acompañamiento de percusión de la música. Las danzas de Guerrero se pueden reconocer por los pañuelos volantes que son una gran parte de los movimientos de los danzantes.”

https://open.spotify.com/album/6RYN44BhygLGUrDUjmNA6u


No Fundamental 2, a escolha das danças e os ensaios aconteceram nas aulas de Educação Física.

O 6º e o 7º anos apresentaram “Lelê Maculelê” e a música cubana “Oye el Consejo”.
Maculelê é uma dança tradicional que mescla elementos afro-brasileiros e indígenas, evolução de uma arte marcial que se preserva na dança com bastões que se golpeiam.


Depois dançaram novamente ao som de  “Oye el consejo”,  uma canção do cantor Ibraim Ferrer, que aos 69 anos integrou o Buena Vista Social Club, grupo de veteranos que se notabilizou internacionalmente tocando música tradicional cubana no final dos anos 1990 e inspirou o documentário homônimo de Wim Wenders.

“Oye el consejo” foi interpretada por “Los Gayberos de Cuba”.



O 8º e o 9º anos apresentaram o forró “Oh chuva” do grupo Falamansa e “Me quedo contigo”, uma Salsa cubana, ou um son “moderno”, de acordo com seu autor Leoni Torres.

O son é um gênero musical tradicional de Cuba que surgiu no fim do século XIX, diferente da salsa, que apareceu em meados dos anos 1960. Há semelhanças, mas também diferenças, entre elas a maior “velocidade” da salsa. O espírito do son está presente na origem da salsa e também do mambo.

https://youtu.be/Veeu7KSsZ4c
https://youtu.be/Q0wyQKlCKrM


A tradicional quadrilha ficou para o Ensino Médio. O que não foi tradicional foi o casamento, pois os alunos e alunas quiseram representar a diversidade afetiva trocando os pares hétero pelos pares homoafetivos.


Assim, as tradições vão se modificando e se mesclando em um mundo tão plural e diverso como o que vivemos agora.


Em nosso país e sobretudo na região sudeste, as festas juninas adquiriram uma ligação com a cultura rural, encontrando representação nas músicas regionais e na cultura caipira. A música caipira, a viola, a figura do homem do campo se firmaram como tradição. As caricaturas e estereótipos do homem do campo também acompanharam esta tradição e são ainda presentes e alvo de críticas pertinentes neste tempo de revisão de tudo em que vivemos.

Tivemos ainda a participação da dupla Alvimar e Zé Trabuco, num momento divertido e inteligente.

Assim, as festas juninas são uma oportunidade para rever, valorizar as raízes rurais e regionais e ampliar nossos conhecimentos.

 

Agradecemos a todos que participaram da festa e esperamos que todos tenham gostado!

Bibliografia para quem quiser saber mais!

https://www.scribd.com/document/205507879/APUNTES-PARA-LA-HISTORIA-DEL-SIKURI-PERUANO

https://diariocorreo.pe/edicion/puno/ninas-y-ninos-sicuris-de-puno-estrenan-tema-en-quechua-video-867539/

https://www.facebook.com/PunoCultura/

http://canteradesonidos.blogspot.com/2007/05/reivindicacin-de-la-pandilla-y-la.html

https://es.wikipedia.org/wiki/Sicuri

https://www.deperu.com/abc/danzas-peruanas/5812/la-pandilla-punena

https://www.totolamomposina.com/biography/?lang=es

https://pt.wikipedia.org/wiki/Mulher_Rendeira

http://melodiasantigas.blogspot.com/2012/07/mulher-rendeira-musica-do-famoso.html

http://www.cultura.al.gov.br/politicas-e-acoes/mapeamento-cultural/cultura-popular/folguedos-dancas-e-tores/folguedos-natalinos/cheganca/cheganca-silva-jardim

http://www.museudagentesergipana.com.br/wps/wcm/connect/Museu%20da%20Gente%20Sergipana/inicio/largo-da-gente-sergipana/esculturas/cheganca/cheganca

Las Amarillas

https://prezi.com/g0dix_r8wgyv/las-amarillas-guerrero/

http://www.mediatecaguerrero.gob.mx/todo-guerrero/la-chilena-guerrero/

Las Amarillas Ballet

https://www.youtube.com/watch?v=ihnm0vfn3uU


México – Las Amarillas com Ensamble Folklorico de Veracruz

https://www.last.fm/music/Ensamble+Folklorico+de+Veracruz

https://open.spotify.com/album/6RYN44BhygLGUrDUjmNA6u


Las Amarillas Grupo Nahucalli
https://www.youtube.com/watch?v=ptORRhuW_Vg

Las Amarillas com Los Lobos
https://www.cifraclub.com.br/los-lobos/419956/letra/

Las Amarillas com Coro Europeu
https://www.youtube.com/watch?v=okP4jH8a_kw

https://brasilescola.uol.com.br/detalhes-festa-junina/origem-festa-junina.htm

https://super.abril.com.br/mundo-estranho/como-surgiram-as-festas-juninas/

http://www.ebc.com.br/infantil/voce-sabia/2016/06/como-nasceu-tradicao-da-fogueira-da-festa-junina

https://www.suapesquisa.com/musicacultura/historia_festa_junina.htm

https://www.mundodadanca.art.br/2011/03/marujada-danca-folclorica-do-para.html

https://www.historiadealagoas.com.br/cheganca-e-fandango-herancas-ibericas-no-folclore-alagoano.html

http://culturadigital.br/mincnordeste/2018/08/01/bahia-vi-encontro-de-chegancas-da-bahia-acontece-nos-dias-04-e-05-de-agosto-em-saubara/

http://www.terrabrasileira.com.br/folclore/g19-chegan.html

http://marujadadesaubara.org.br/marujadas/o-que-sao/

https://www.correio24horas.com.br/noticia/nid/grupos-culturais-revivem-a-tradicao-das-marujadas-e-chegancas-no-reconcavo/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Maculel%C3%AA

http://www.buenavistasocialclub.com/

https://en.wikipedia.org/wiki/Ibrahim_Ferrer

http://latinoamericana.wiki.br/verbetes/b/buena-vista-social-club

https://cultura.estadao.com.br/noticias/musica,cubanos-do-buena-vista-social-club-dizem-adeus-em-sao-paulo,70002305397

https://en.wikipedia.org/wiki/Son_cubano#Early_20th_century

https://en.wikipedia.org/wiki/Son_cubano

http://www.justsalsa.com/salsa/music/son/

https://la-candela-salsa.de/what-is-the-difference-between-salsa-and-son/