quinta-feira, 16 de novembro de 2017

O protagonismo como proposta

Por João Mendes de Almeida Jr

“Assim, a concepção contida na proposta de protagonismo juvenil deve ser entendida de forma abrangente, não podendo limitar-se à Educação escolar, mas incluindo outros aspectos que possam auxiliar os jovens no exercício da vida pública, como o desenvolvimento pessoal, profissional, as relações sociais e o trato com as questões do bem-comum". (Branca Brener, psicóloga e mestre em Serviço Social pela PUCSP) 

Todos os anos reunimos nossos professores, coordenadores e orientadores em um Simpósio Interno, trazendo um tema para debate e para a troca de experiências: entre os segmentos que compõem a escola, entre os profissionais da equipe e, algumas vezes, com especialistas de fora.

O tema comum a todos os segmentos, da Educação Infantil ao Ensino Médio, nos permite criar uma unidade na atuação pedagógica, um corpo mais coeso de pensamento e um conhecimento mais sólido acerca das possibilidades de construção diária de nossa prática.

Neste último sábado, chegamos à oitava edição do Simpósio Interno, desta vez com o tema “O Protagonismo do aluno na escola”

O conceito do protagonismo na escola vem sendo construído ao longo dos últimos anos com a participação de educadores e pensadores de diversas partes do mundo e tem como peça chave o aluno como ponto central da prática educativa, contribuindo para a formação de jovens e adultos mais autônomos e comprometidos com seu aprendizado, com valores de solidariedade e respeito mais incorporados e que contribuam para a transformação social.  


O estímulo para o início dos debates foi o documentário “Nunca me sonharam”, o qual nos convida ao diálogo sobre a realidade do ensino médio nas escolas públicas do Brasil. Na voz de estudantes, gestores, professores e especialistas, o filme questiona: Como nós, enquanto sociedade, estamos cuidando e valorizando a qualidade da educação oferecida aos jovens na fase mais sensível e transformadora de suas vidas? Dirigido por Cacau Rhoden, o filme foi premiado em Los Angeles como o melhor documentário de 2017. 

O documentário é um tocante “apelo” para a mudança que a educação precisa para contemplar a infinidade de sonhos dos jovens que passam diariamente pelos bancos escolares.

Dividimos nossos professores em grupos, que continham elementos de todos os segmentos da nossa escola, para debaterem suas visões acerca das falas dos alunos, professores, gestores e especialistas de fora da educação apresentados no documentário.



Pudemos constatar que as dúvidas e angústias retratadas são, em certa medida e consideradas as enormes dificuldades mostradas, comuns às nossas como educadores e de nossos alunos, envoltos na enorme pressão que a adolescência traz.

Na busca deste protagonismo juvenil, a atuação dos professores em favor deste aluno e futuro cidadão autônomo, crítico e consciente deve começar bem cedo, desde a Educação Infantil, propiciando às crianças um encantamento pelo aprendizado, um significado para os conteúdos e a criação de vínculos afetivos que deem segurança e estímulo a cada um.

Para que isto seja possível é fundamental uma mudança na visão do papel dos alunos em que estes possam se enxergar como “fonte de iniciativa, fonte de liberdade e de compromisso”.

O Simpósio seguiu e, depois desta conversa, compartilhamos com toda a equipe dois projetos em andamento em nosso colégio que têm o Protagonismo como fundamentação.

O primeiro, desenvolvido pelo 4º ano do Ensino Fundamental, a que chamamos “Ensinando e Aprendendo”, tem como escopo a experiência compartilhada de saberes. Cada estudante prepara oficinas para ensinar aos seus colegas algo que ele saiba fazer, algo que ele conheça bem ou de que goste. Culinária, artesanato, esportes ou qualquer outro assunto podem entrar na atividade, lembrando que são crianças de nove anos de idade.

A escolha do tema, a preparação, o formato da oficina partem da iniciativa dos alunos e da autodescoberta e autoconhecimento naquilo de bom “que posso compartilhar com meus colegas”. Processos de avaliação e de autoavaliação estimulam e valorizam os trabalhos apresentados.

O segundo projeto, desenvolvido com os alunos do 9º ano, chamamos de “Sonhar a Escola”, trata de um momento marcante na vida dos adolescentes: a passagem do Ensino Fundamental para o Ensino Médio.

O projeto em curso que envolve alunos, professores, coordenadores e tutores do Fundamental e Médio, pediu para os alunos, na onda das mudanças anunciadas pelo Governo Federal, uma proposta de um novo Ensino Médio que contemplasse seus sonhos de escola e futuro. O objetivo é expor ou mesmo identificar seus sonhos de uma “escola ideal”, uma “escola utópica”. 

Uma citação no documentário “Nunca me sonharam”, que recomendamos seja assistido junto com seus filhos, associa a educação a uma plantação de tamareiras que levam quase cem anos para dar os primeiros frutos. Quem planta, não vai colher as tâmaras. Esta “boa colheita” será feita pela transformação social com que todos sonhamos.

As construções deste protagonismo, desta autonomia e dos sonhos possíveis e impossíveis, estão no fundamento de nossa atuação pedagógica. O desafio diário que enfrentamos, de criar um ambiente de aprendizado significativo, do encantamento pelos saberes, na descoberta dos sentimentos dos conteúdos, de um aprendizado baseado em projetos com a participação efetiva dos alunos, só é possível com o envolvimento e em uma escola em constante inquietação e um olhar no futuro.