quarta-feira, 12 de agosto de 2015

ESCOLA É LUGAR DE BRINCAR!

Por Theodora M. Mendes de Almeida


Não é sem razão que o tema da brincadeira tem sido alvo de interesse de educadores de todos os tipos: pais e mães, pedagogos, pesquisadores, cineastas, jornalistas... A correria, a violência, o consumo e tantas dificuldades da vida contemporânea foram tomando o espaço da brincadeira.  

Alguns deles, de formas variadas, dedicaram seu tempo a defender a importância do brincar, como Gisela Wajskop, Renata Meirelles, Rubem Alves, Estela Renner, Adriana Klysis. Escreveram textos, poemas, fizeram documentários inteligentes e instigantes a que todos podem ter acesso. Procuramos estudar e oferecer aos nossos professores a oportunidade de incluir e vivenciar a brincadeira na escola junto com seus alunos.

Gisela Wajskop, em uma de suas publicações, nos diz que “Nas sociedades ocidentais atuais, sempre que se pensa na criança e nos cuidados e educação, faz-se uma referência ao brincar. Normalmente, a aceitação da brincadeira como parte da infância é consequência de uma visão social de que brincar é uma atividade inata, inerente à natureza da criança.”  

Este entendimento, porém, surgiu após a Idade Média, quando o brincar foi associado à criança e o trabalho ao adulto. A ideia de garantir à criança o direito de brincar é bem recente, principalmente a criança da cidade grande, que perdeu seu espaço de brincar. 


A visão romântica e saudosista da brincadeira foi também escrita de forma poética por Rubem Alves em seu livro QUANDO EU ERA MENINO: “Todo brinquedo tem de oferecer um desafio. "Desafio" é isso: uma coisa que a gente quer fazer mas é difícil fazer. Num brinquedo a gente está sempre "medindo forças" com alguma coisa: com a água (nadar é brincar com a água), com uma árvore (subir na árvore é brincar com a árvore), com uma pessoa (o "pique": quem corre mais rápido), com uma adivinhação (todo problema é um enigma a ser decifrado)... Um quebra-cabeças de 16 peças: que graça tem? É só olhar para saber onde as peças se encaixam. Mas um quebra-cabeças de 500 ou mesmo 1.000 peças: isso sim é um desafio. Aquele monte de peças em cima da mesa está nos dizendo: "Veja se você é capaz de nos ajuntar de forma que todas fiquemos encaixadas umas nas outras e desse encaixe apareça uma quadro...
Outro brinquedo de criança pequena é assobiar. Que inveja dos meninos maiores! E eu soprava que soprava, mas só saía o barulho do vento. Até que um dia, assobiei. Aí passei a assobiar o tempo todo e fui me aperfeiçoando. Até que ficou fácil. Assobiar deixou de ser um desafio. Mas um outro desafio surgiu: aquele assobio forte que se produzia pondo dois dedos na boca, debaixo da língua. Tentei muitas vezes e não aprendi. Ainda hoje eu tenho inveja...”


O filme Tarja Branca, um corajoso elogio do brincar, é um incrível manifesto pelo direito de brincar da criança, segundo jornalista da Carta Capital: “O maior recheio do filme está nas entrevistas que moldam um determinado discurso, preparam uma defesa para o tema proposto. Pessoas de profissões das mais diferentes funções, pedagogos, artistas, humoristas, psicólogos etc. misturam depoimentos pessoais com análises distintas e instigantes. Todos parecem concordar que o brincar é a atividade raiz da infância. Trata-se de uma atividade soberba porque expressa a plenitude, a expansão, a liberdade, a unidade. É a primeira maneira de ligação com o mundo social. Ela é, segundo um dos entrevistados, aquela água subterrânea que percorre todo o rio da vida que bebemos e de que dependemos.
 A proposta também escora-se nos adultos. Deve-se – por necessidade – resgatar a criança dentro de cada adulto. Não é uma tarefa simples, como procurar numa caixa velha uma ferramenta perdida, pois, na maior parte das vezes, nem percebemos o quanto nos tornamos sérios demais e ocupados demais para brincar não somente com os outros, mas com nós mesmos. Quantas vezes crianças não ouvem dos adultos que “hoje não dá, filho, estou ocupado”, “hoje não dá, filha, estou com muita pressa” ou “estou muito cansado”.


A forma de brincar também é motivo de preocupação. “O movimento Slow Kids acredita que, para as crianças se desenvolverem de maneira saudável, é preciso respeitar seu tempo – de descobrir, observar, experimentar. É preciso dar a elas espaço para que se conheçam, investiguem seus interesses, capacidades, emoções.
Acreditamos que o brincar é coisa séria. Que pular etapas e apressar fases do desenvolvimento da criança é encurtar o seu potencial e, com ele, sua sensibilidade e inventividade.
Defendemos que o tempo livre da criança seja valorizado e garantido. Ele é um caminho na contramão do acúmulo de informações e da construção de falsos desejos, cotidianamente induzidos pela sociedade do hiperconsumo e da informação. Incutir na criança necessidades que não são reais pode levar ao estresse, ansiedade e apatia.
Acreditamos, também, que o contato com a natureza é fundamental para a saúde física e mental da criança. Essa interação estimula o uso de todos os seus sentidos, e assim ela se apropria dos espaços, dos outros, de si mesma. Crianças que brincam regularmente com elementos naturais têm mais coordenação, equilíbrio e agilidade.
Queremos que a criança tenha vivências no mundo real, que sejam plenas, calmas e afetivamente significativas, e não meramente informativas. O impacto negativo da mídia e dos jogos eletrônicos é observado tanto no desenvolvimento físico das crianças como no emocional, social e mental. Por isso, defendemos que esse tempo seja limitado e que haja, sempre, a mediação ou o acompanhamento de um adulto.
Acreditamos que a terceirização do cuidado com as crianças é prejudicial ao seu desenvolvimento, pois a criação de vínculos afetivos fortes dá segurança para que ela tenha um desenvolvimento saudável e se prepare para enfrentar o mundo. Os pais devem assegurar tempo para estarem juntos – e focados. E não, não bastam 15 minutos.
Convidamos a todos para olhar para as necessidades das crianças no presente – hoje! – e não agir pensando apenas no futuro. Abrir mão do aqui e do agora pode trazer consequências graves para os pequenos, que marcam o restante de suas vidas.
Sonhamos com uma mudança em relação ao modo como recebemos nossas crianças no mundo. Sabemos que uma sociedade que cuida bem de suas crianças se humaniza."

Visite o site : www.slowkids.com.br


Para Renata Meirelles, nossa ex-aluna, “brincar é a principal e mais importante atividade da infância. É por meio dela que os pequenos investigam o mundo em que vivem e se preparam para amadurecer. Com seus bonecos, carros, comidinhas e fantasias, meninos e meninas descobrem novas emoções e experimentam sensações. Amam, odeiam, sofrem, alegram-se e, assim, fazem um treino complexo e rico para a vida adulta. “Fui uma criança que brincou muito e, mesmo depois de crescer, continuei apaixonada pelo tema”, afirma a pesquisadora Renata Meirelles, que sempre aproveitou viagens com amigos para observar rodas de crianças dos lugares que visitava. Em 2000, ela conheceu o americano David Reeks, que estava de férias no Brasil e cultivava o hábito de gravar os sons do país – a feira, o trânsito, as conversas de bar. Começaram a namorar, e ela fez a ele uma proposta: “Vamos para a Amazônia registrar as brincadeiras de crianças em vídeo?” Juntos, os dois visitaram 16 comunidades indígenas e ribeirinhas do Amapá, Pará, Amazonas, Acre e de Roraima para realizar o projeto que batizaram de Bira – Brincadeiras Infantis da Região Amazônica. O material das viagens resultou em documentários de curta metragem, apresentações, oficinas e palestras para escolas e no livro Giramundo, vencedor do Prêmio Jabuti.

Em 2012, já mãe de dois meninos (Sebastião e Constantin, então com 5 e 3 anos, respectivamente), Renata fez uma nova proposta a David: viajar pelo Brasil para registrar brincadeiras em diversos tipos de cultura. Proposta aceita, a família passou dois anos na estrada para realizar o projeto Território do Brincar. Durante as viagens, ela promoveu intercâmbios com educadores de escolas a quem, por Skype, contava e mostrava o que tinha visto. Depois, discutiam temas como trabalho infantil. As pesquisas do casal também renderam uma exposição itinerante que percorre escolas, festivais e praças Brasil afora e o documentário Território do Brincar, que estreou nos cinemas no mês passado. Agora, ela tem em fase de produção uma série infantil para televisão e outro livro. No próximo ano, Renata quer levar a família para uma nova jornada em busca de brincadeiras. Desta vez, pelo mundo.”  Revista Cláudia

Assista ao filme e acesse o site: www.territoriodobrincar.com.br


Adriana Klisys, pesquisadora, trabalha com projetos de resgate dos jogos e brincadeiras e faz a formação de professores para garantir um olhar especial sobre a hora de brincar na escola. Já esteve aqui conosco, atuando na formação de professores, fazendo oficina de jogos africanos e nos ensinando a criar e a montar jogos de tabuleiro com as crianças.
Adriana é diretora da Caleidoscópio Brincadeira e Arte  www.caleido.com.br


Aqui na nossa escola, sabemos da importância do brincar e garantimos os momentos de brincadeira em diferentes espaços e contextos. As brincadeiras tradicionais fazem parte do dia a dia da Educação Infantil. Na nossa coletânea de jogos e cantigas tradicionais, registramos este acervo maravilhoso, que vamos passando a cada nova geração.

             
 
 
 

E você, quer brincar?

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