quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Orientação profissional: caminhos para o autoconhecimento

Por Paz Picos

- “60% dos jovens estão aprendendo profissões que vão deixar de existir.”
- “Cerca de 60% das pessoas vão mudar de carreira pelo menos duas vezes na vida.  E algumas delas nunca vão trabalhar na área em que se formarem.”
- “Top schools push pupils away from universities.”

As afirmações acima - a primeira tirada de um relatório australiano para a juventude, a segunda feita em palestra sobre profissões e futuro pela pesquisadora e publicitária Eliane El Badouy e a última do jornal inglês The Times - mostram a enorme dificuldade encontrada pelos jovens de hoje na escolha de seus futuros profissionais diante da multiplicidade de carreiras e trajetos de desenvolvimento possíveis.

Já há muito tempo sabemos que o brincar de professora, policial, engenheiro, bombeiro, é visto como natural e corriqueiro. Este faz de conta possibilita à criança a apropriação de mundo, a resolução de conflitos e a aprendizagem. A criança se aproxima do mundo adulto no faz de conta e representa papéis e profissionais que estão disponíveis na família, na escola ou, até mesmo, na mídia. É nesta fase que surge o primeiro contato com a resposta para a grande pergunta que os acompanhará até a escolha: o que eu quero ser?

Na adolescência, o tema mais importante e vital é o desenvolvimento do eu e da própria identidade, já que se começa a tecer o próprio relato, a própria história, interpretando experiências passadas e o seu aproveitamento para solucionar os desafios do presente e as perspectivas de futuro. Segundo Lisboa, a adolescência é a segunda fase mais importante em grau de transformações significativas que levará o ser a uma vida adulta.
É justamente nesta fase que está inserida a escolha da sua futura profissão. Uma das tarefas essenciais da adolescência no mundo atual.

O adolescente, em construção do “eu sou”, parte em busca do “eu serei”. Neste momento, a Orientação Profissional entra como parte do processo de autoconhecimento e de escolha. De acordo com Aide K.Wainberg, psicóloga brasileira, a Orientação Profissional não é um momento isolado, faz parte de um processo maior de construção da personalidade, porque a escolha é uma tarefa de quem vai seguir um caminho e, portanto, deixar para trás as outras possibilidades. Segundo Rodolfo Bohoslavsky, psicólogo argentino, “quem escolhe não está somente escolhendo uma carreira. Está escolhendo com o “que” trabalhar, está definido “para que” fazê-lo, está pensando num sentido para a sua vida, está escolhendo um “como”, delimitando um “quando” e “onde”, isto é, está escolhendo o inserir-se numa área específica da realidade ocupacional”.

A Orientação Profissional na escola é oferecida em grupo porque é próprio do adolescente o convívio em turmas. Em 2017 estamos realizando este trabalho já com o grupo da 1ª série do Ensino Médio, no momento em que o adolescente está buscando a sua identidade, fase em que é importante sentir-se igual aos outros e fazer parte das mesmas dúvidas e inseguranças em relação à escolha profissional. Cada participante é um facilitador porque a possibilidade de entender o outro permite o conhecimento do que cada um busca em si mesmo. Segundo J. Guichard, no seu livro “Psicologia da Orientação”, as práticas em OP devem assegurar o desenvolvimento humano como construção mútua: ao realizar sua própria identidade, contribui para que se construa a do outro.

Para fazer a escolha é importante que o adolescente saiba quais são as suas habilidades e potencialidades. É preciso saber quais competências precisará desenvolver, que saberes precisará dominar, além dos meramente técnicos, para atingir seus objetivos. 

Durante os nossos encontros em Orientação Profissional trabalhamos com dinâmicas para facilitar o autoconhecimento. Não é possível escolher uma profissão sem antes saber quais são os meus interesses, habilidades e motivações. Ao mesmo tempo, não há escolha sem saber o que há para escolher. Atualmente há um leque de aproximadamente 25 mil cursos em cerca de 200 carreiras. A pesquisa é fundamental neste processo. 

Conhecer uma profissão vai além de saber sua definição. Para realmente se apropriar deste conhecimento o aluno deve se encontrar com profissionais, entrar em contato com o dia a dia, saber qual o seu campo de atuação, como esta profissão se insere na sociedade e qual o estilo de vida desse profissional. Somente assim o adolescente poderá afastar a idealização da profissão e deixar de lado o faz de conta da infância.

Também é de suma importância visitar cursos, faculdades e universidades. O adolescente precisa conhecer onde vai passar os próximos 2, 4 ou 5 anos de sua vida. 

A universidade, faculdade ou técnico, assim como o curso, também precisam ser escolhidos. Não basta ser a melhor, tem de ser aquela onde o estudante se sinta confortável para trilhar o caminho rumo ao seu plano de vida. Como parte do processo de OP aqui no Hugo Sarmento, vistamos a 11ª Feira USP de Profissões, onde os alunos puderam entrar em contato com os vários cursos oferecidos por esta Universidade.

Entendemos que na 1ª série do Ensino Médio encontramos um bom espaço para esta discussão, pois não há pressa em escolher, mas existe a necessidade de trilhar este caminho ao longo dos anos do Ensino Médio e os seguintes. Também não há pressa em decidir, a toque de caixa, quem eu sou, mas há necessidade de tecer perspectivas futuras que proporcionarão, aos adolescentes, tranquilidade para caminhar rumo ao ser adulto. Não temos como objetivo concluir uma escolha, mas amadurecer a responsabilidade da construção do seu próprio futuro porque, assim como disse Jorge Castellá Sarriera, psicólogo espanhol radicado no Brasil: “Busca-se, finalmente, fornecer subsídios para que o jovem seja agente de conhecimento, interação e controle em seu contexto, reconhecendo seu papel ativo na construção de um meio eficaz para o desenvolvimento humano integral." 

Quando a escolha acontecer, fruto da implementação de um conceito de si mesmo e que esta escolha puder conceder ao jovem uma identidade social significativa, cabe a nós, escola e família, orientá-lo a concretizá-la e apoiá-la. E se não der certo, ajudar a começar tudo de novo.

Para saber mais...

https://conteudo.startse.com.br/mundo/lucas-bicudo/60-dos-jovens-estao-aprendendo-profissoes-que-vao-deixar-de-existir/

http://educacao.estadao.com.br/blogs/oficina-do-estudante/especialista-revela-como-sera-a-profissao-do-futuro/

https://www.thetimes.co.uk/article/top-schools-push-pupils-away-from-universities-wellington-college-sedbergh-school-queen-ethelburga-s-college-stamford-school-lincolnshire-l7rvg3czd

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