quarta-feira, 23 de setembro de 2015

China: O que ainda temos a aprender?

Por Leonardo Masaro - professor de Filosofia do Ensino Médio

 
Trabalhos de Júlia Hausner B. de Melo e Olívia Murin Augusto – 3ª s. Ensino Médio

A China causa, hoje, um misto contraditório de inveja e medo. Inveja pelo crescimento a mil por hora que nós, brasileiros, tanto desejamos; medo pelo efeito destruidor de seus produtos baratos sobre nossa economia e sobre o planeta, pela incompreensão diante daquelas pessoas falando aquela língua estranha pelas ruas do centro da cidade. China: perigo amarelo ou modelo de sucesso?

É preciso, pois, estudar e conhecer melhor a civilização chinesa, destinada a um papel central no século XXI. Aqui no Hugo Sarmento todos temos devotado nosso projeto anual a esta tarefa. Com meus alunos do curso de Filosofia de todo o ensino médio, um trimestre foi dedicado – como não poderia deixar de ser – ao estudo do pensamento chinês.

O que se passa na cabeça deles? Não exatamente o mesmo que nas nossas, embora sejamos todos igualmente humanos. É que a China, dona de uma cultura milenar, possui todo um sistema de pensamento e uma visão completa de mundo muito antigos. 

Enquanto muitos povos ainda estavam se organizando, e muitíssimo antes de inventarmos a ciência, os chineses já haviam formulado as bases de sua visão de mundo. E os pilares são o respeito à autoridade e a preeminência da coletividade sobre o indivíduo.

A sociedade chinesa (ainda?) é algo que nós já não somos: uma sociedade tradicional. Isso significa que aquilo tudo que nossos avós comentavam – respeito aos mais velhos, admiração pelos professores, dever para com a família, obediência incondicional a chefes e autoridades – lá é a mais pura realidade. O pensador Confúcio (500 anos antes de Cristo) chamava isso de filialidade: agir para com os mais velhos e autoridades como um filho diante do pai, e para com os mais novos e inferiores na hierarquia social como um pai diante do filho. Algo bem diferente de nosso comportamento atual, como todos os brasileiros com filhos em idade escolar bem o sabem… 

Estudar a China nos permite ver todas as vantagens e desvantagens desse tipo de sociedade: disciplina, respeito para com os outros, baixo nível de violência, mas, também, autoritarismo por parte dos mais velhos e/ou poderosos, inexistência de democracia, forte resistência a mudanças. 

Esse tipo de visão de mundo faz par com a importância da coletividade e a desimportância dos indivíduos. Um jornalista brasileiro em recente viagem à China espantou-se ao almoçar com chineses. Foi mais ou menos assim:
Chinês: – O que você vai querer?
Brasileiro: – Não sei bem… vocês já escolheram?
Chineses: – Hahahahhaa!!! Hehehahaha!!!
Brasileiro: ???... – Bom, vou provar este Pato de Pequim.
Chinês: – Garçom, Pato de Pequim para todos!

Não somente a pessoa mais importante à mesa escolhe o prato para todos, como paga a conta!! (Claro que o brasileiro, como convidado, não estava pagando…) A ideia de que cada indivíduo pode escolher seu prato e sua bebida, simplesmente não ocorre, assim como não nos ocorre que outros escolham o que nós vamos comer. E isso vige em todas as esferas: muitas vezes os pais escolhem a profissão dos filhos, por exemplo.
Trabalho de Thomas Giurno Destro – 3ª s. Ensino Médio

Assim, a imagem que temos de chineses disciplinados, fazendo tudo sincronizadamente, se “matando” de estudar e etc., é fruto não somente do esforço do indivíduo, mas de toda uma visão de mundo compartilhada por uma sociedade. Entender isso é, também, por comparação, entender o que somos e o que queremos para nós, brasileiros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário