quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O primeiro aluno

João Mendes de Almeida Jr 
Diretor Administrativo do Colégio Hugo Sarmento


É bom e ao mesmo tempo é estranho saber que esta escola tenha sido criada para mim ou por minha causa, e que eu continue aqui após 50 anos.

Esta foi uma fala familiar, que minha mãe gostava de repetir carinhosamente. Mas, sei que não foi só por mim que minha mãe fundaria a escola. Foi muito por seu espírito inquieto e inovador e sua enorme vontade de mergulhar nesse universo da educação, tradição de família como vocês leram no primeiro post do blog deste ano.

A verdade é que eu fui o primeiro aluno, na primeira classe formada. Depois, com a entrada de novos alunos, uma turma de mais velhos foi criada e acabei completando o fundamental, a oitava série, na segunda turma a se formar aqui em 1976. Naqueles tempos, não tínhamos o “segundo grau” ou ensino médio.


A experiência de ter vivido aqui como aluno em uma época de efervescência e grandes ideais e desejo de mudança na sociedade e na educação, como foram os anos 60 e 70, foi marcante para mim e meus colegas. O ideal desta escola e este olhar constante para o futuro nascia ali.

A criatividade já estava no centro de todo o processo da escola. A equipe de professores e coordenadores buscava incessantemente estimular em cada um de nós este lado criativo e crítico que hoje vem sendo reconhecido como tão fundamental.

Não tínhamos, é claro, uma noção tão evidente disto como alunos, mas o espírito da escola e a aposta dos pais daquele tempo na proposta fazia do Hugo uma escola diferenciada. E de certa forma nós percebíamos isto quando tínhamos contato com garotos de outras escolas, a maioria “careta” e baseadas em “decoreba”.

Quase todos da minha turma ficaram juntos desde a educação infantil até o fim do fundamental e pudemos compartilhar estes anos iniciais do colégio. Tínhamos uma relação de afeto com nossos professores e professoras, éramos próximos, não tínhamos medo deles – pelo menos não da maioria.

O enorme conteúdo que enfrentávamos – e que enfrentam os alunos de hoje em dia – não nos parecia um fardo. É óbvio que havia dificuldades específicas e implicâncias com algumas matérias, mas, ainda assim, conseguíamos levar a escola de maneira mais leve e comprometida. 

Já naquele tempo a arte, o teatro, o estímulo à leitura, a “matemática moderna”, muitas redações, resolução de problemas, saídas pedagógicas e a exposição de trabalhos nos envolviam e estimulavam de verdade. 

Ao sair do Hugo para fazer o “colegial” em outra escola e durante os anos da faculdade é que pude perceber o peso da formação que tive aqui e de como isto diferencia os alunos que passam pelo Hugo.

Por circunstâncias diversas, há trinta anos entrei na escola para trabalhar e hoje, como diretor, atuo para que grande parte deste espírito inicial continue  vivo. 


O colégio não é exatamente o mesmo e nem poderia ser – são outros tempos. 
Nas palavras dos alunos que acabaram de se formar no Ensino Médio está a prova de que esta visão inovadora ainda está presente como um grande valor para todos nós e de que o laço tão estreito que nos mantém unidos –  alunos, escola e famílias – continua firme na família Hugo Sarmento.

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